Mulheres mudam o mundo": uma etnografia de políticas corporativas e pedagogias do empoderamento

A tese parte da recente profusão discursiva que determina as mulheres como “nova” frente de combate à pobreza, crises econômicas e desigualdades entre nações. O foco em promover o empoderamento de mulheres tem sido motor para o protagonismo corporativo por meio de investimentos privados em projetos de organizações não-governamentais e da sociedade civil sob formas de voluntariado. As narrativas de que as soluções para os principais problemas mundiais poderiam ser melhoradas com a participação de “mais mulheres”, que trariam atributos de gênero como “humanidade” e propensão ao cuidado, sugerem que tais fontes de altruísmo e gestão responsável teriam sido negligenciadas pelos mercados produtivos formais, permitindo criar um espaço privilegiado para ampliação das lógicas de mercado. Por meio de uma etnografia multissituada realizada entre 2019 e 2022, busquei mapear quais os sentidos formam a categoria “empoderamento” no contexto brasileiro a partir das crescentes articulações entre setor privado, Estado, organizações internacionais e ONGs. Ao longo de cinco capítulos, analiso quais racionalidades dão forma a diversas políticas de promoção do empoderamento econômico, com especial atenção a programas nacionais de treinamento em empreendedorismo para mulheres.