Mulheres na Guerra de Independência da Argélia (1954-1994): Experiências, testemunhos, direitos.

A Guerra de Independência da Argélia, ou a Revolução Argelina é um marco na história contemporânea do século XX. Após buscarem sem sucesso soluções diplomáticas e legislativas para garantir melhores condições de vida, direitos e autonomia, surge como solução para as forças independentistas a resistência armada - a participação das mulheres se dá desde o princípio dos conflitos. Este trabalho teve por objetivo revisitar a história da participação das mulheres na Guerra de Independência da Argélia sob novas perspectivas, a partir de seus próprios testemunhos, investigando como o processo de reacessar a memória da participação na guerra pela perspectiva feminina abriu possibilidades à reivindicação de direitos pelas mulheres. Nesse sentido, contamos com três fontes principais cujas análises dão origem respectivamente aos três capítulos da dissertação. Na literatura argelina francófona e na imprensa revolucionária, acompanhamos a trajetória da renomada escritora e historiadora Assia Djebar que colhe testemunhos de mulheres combatentes e refugiadas da guerra entre 1958 e 1959. A despeito das críticas que pautavam a unidade do movimento, Djebar não deixa de afirmar, já desde esse momento, os direitos das mulheres argelinas. Aqui, analisamos seu segundo romance de guerra Les Alouettes Naives (1967), inspirado nos testemunhos colhidos. Já nos tribunais de Argel e de Paris, acompanhamos o caso de Djamila Boupacha (1962), através da obra testemunho que leva seu nome como título. A militante processou o Estado colonial francês, berço dos Direitos do Homem, que recorria agora a tortura para extrair confissões. Por fim, analisamos a obra Des femmes dans la guerre d’Agérie (1994) que traz trinta entrevistas colhidas por Djamila Amrane. Em um momento em que são os direitos das mulheres no estado pós-colonial que estão em jogo, a ex-combatente e historiadora afirma, a partir de testemunhos cruzados com estatísticas, uma maior participação das mulheres nos conflitos do que aquela reconhecida até então. Cada fonte com suas próprias particularidades, todas nos apontam mulheres que mobilizam experiências de guerra de suas pares ocupantes de distintos papeis sociais a partir de testemunhos para reivindicar direitos seja durante a guerra no estado colonial, seja nos tribunais da administração francesa ou no estado pós-colonial argelino.

Data da defesa: 
terça-feira, 6 Fevereiro, 2024 - 14:30
Membros da Banca: 
Raquel Gryszczenko Alves Gomes - Orientadora (UNICAMP)
Mariana Miggiolaro Chaguri (UNICAMP)
Vanessa dos Santos Oliveira (Royal Military College of Canada)
Programa: 
Nome do Aluno: 
Bruna Perrotti
Sala da defesa: 
Sala de Projeção - IFCH