A começar da antiguidade, o Oriente e seus povos foram objeto do olhar do Ocidente, fato que podemos observar em diversas fontes que buscavam falar, descrever e analisar essa região vizinha, elaborando discursos de alteridade que marcavam sua diferença, como é o caso das Histórias de Heródoto e das representações em cerâmica ática. No autor de Halicarnasso podemos observar o retrato de diversas mulheres persas, que auxiliavam a atividade de autodefinição grega.
Para além dos clichês etnocentristas gregos que ressaltam a crueldade, futilidade e conspirações de harém, nos atentamos para as ações femininas no ambiente da corte persa descrito pelo autor, que apresenta as mulheres como indivíduos que interferem no funcionamento da política persa, adentrando o chamado mundo dos homens. A análise das mulheres persas descritas nas Histórias em diálogo com as representações iconográficas de mulheres persas na cultura material nos permite refletir sobre a concepção masculina grega em relação às mulheres em sua sociedade, os comportamentos esperados, os espaços ocupados, assim como ações que desviam destas normas estabelecidas, nos indicando que a necessidade de descrever a diferença em mulheres bárbaras pode marcar a presença de condutas similares em sua própria sociedade.