Através da uma etnografia multissituada das trajetórias afetivas e da mobilidade transnacional de 33 mulheres colombianas, esta pesquisa compreende o lugar que ocupa o "amor" e os afetos na criação e produção da intimidade nestes contextos de mobilidade, e analisa as distribuições diferenciadas de poder que permeiam as interseções de gênero, sexualidade, nacionalidade-raça, idade, classe social e carreira profissional.
Aprofunda, a partir de diferentes lugares da experiência feminina, a questão da transnacionalização dos afetos e se pergunta ¿o que falam as mulheres quando se referem ao "amor" em suas viagens e migrações? Assim, analisa a maneira pela qual, a partir de suas narrativas e práticas cotidianas, as mulheres usam, questionam ou geram torções à diferença e à desigualdade nos seus relacionamentos amorosos e nos contextos geopolíticos em que ocorrem. Consequentemente, "amor" é entendido nesta pesquisa em diferentes níveis: o uso particular e único em que é denominado pelas mulheres ao longo de suas trajetórias afetivas e sexuais; o desdobramento dos diversos afetos em que elas narram a experiência do amor; a análise do jogo não linear dos atributos simétricos e assimétricos do poder e as maneiras pelas quais elas ativam a agência feminina dentro dos relacionamentos amorosos com múltiplas tonalidades através das fronteiras geográficas e biográficas em que circulavam e que possibilitavam suas experiências do "amor" transnacional.
O "amor" transnacional é definido como o marco onde dialogam a intimidade com questões globais da fronteira, e nos permite pensar sobre as várias formas em que os afetos se transnacionalizam. A partir de uma abordagem crítica sobre à mobilidade feminina qualificada, esta pesquisa aborda as experiências femininas de “amor” transnacional desde três lugares diferentes: a migração feminina do sul para o norte, a mobilidade acadêmica feminina sul-sul e as viagens geográficas e virtuais de mulheres.
A análise centra-se na desconstrução do olhar linear do mundo afetivo das mulheres viajantes e migrantes. Está comprometida com o reconhecimento da diversidade de motivos, trajetórias e experiências; com a ideia de evitar qualquer tipo de olhar reducionista que se limite a explicar sua circulação através das fronteiras como meros impulsos de desespero emocional ou econômico. Desse modo, problematiza os imaginários frequentemente recriados sobre as mulheres do “sul global”. Em suma, reconhece que as viagens e migrações são espaços onde as mulheres organizam suas trocas afetivas, sexuais, materiais e simbólicas, transitando entre reciprocidades e assimetrias em busca de criar diferentes condições de frutificação.