Analiso nessa tese o processo de profissionalização de pintores e escultores modernistas negros atuantes em Salvador entre 1947 e 1964, considerando as estratégias produzidas por esses sujeitos diante das hierarquias raciais que mediavam as relações no sistema de arte do período. Nessa investigação, tomo como central a relação entre a circulação em escala continental de modelos institucionais de museus de arte moderna e as diversas percepções locais sobre raça. Processo que produziu redes de circulação de ideias e práticas profissionais que constituíram tanto mecanismos de controle que incidiam diretamente sobre artistas negros, como produziram experiências emancipatórias protagonizados por esses mesmos sujeitos. Durante o doutorado, realizei extensa pesquisa documental na imprensa local do período, em arquivos de instituições e em acervos de arte. A partir de reportagens e registros de exposições, pode identificar a participação de pintores e escultores negros no cotidiano do sistema de arte local, assim como as transformações da experiência racial da cidade diante dos crescentes debates em torno das independências do continente africano e das lutas contra o racismo. Por outro lado, pude identificar projetos marcadamente racializados que circulavam em escala internacional a partir do cruzamento de correspondências entre instituições de arte. Tomando a Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo enquanto mediador desses projetos, analiso a circulação nesse espaço das obras de artistas atuantes em Salvador lado a lado com as de pintores e escultores negros de diferentes territórios da diáspora africana. A partir dessas analises, apresento uma contribuição aos estudos sobre modernismos negros na diáspora africana.