As migrações mais profusas entre Paraguai e Brasil na contemporaneidade são aquelas de caráter rural-rural com origem no último em direção ao primeiro e transcurso principalmente nas décadas de 1960 e 1970, em um contexto de aproximação política, econômica e comercial entre os dois países. Entretanto, ainda que em magnitude inferior, registra-se também uma presença significativa de paraguaios em território vizinho, cujo “estoque” nunca distou muito dos 15 mil indivíduos (desconsiderando-se aqueles que eventualmente se naturalizaram brasileiros) ao longo de todo o século XX, de acordo com os censos demográficos realizados no período. A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), por sua vez, desponta de maneira mais expressiva como destino a essas migrações a partir dos anos 1950, com a vinda, inicialmente, de estudantes por meio de programas de intercâmbio universitário e deslocados em decorrência da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), entre outros grupos. Na virada para o século XXI, tanto a nível nacional como metropolitano (em relação à capital paulista e seu entorno), as migrações paraguaias apresentam um crescimento sem precedentes, dentro de um panorama global de intensificação das migrações Sul-Sul e de importantes mudanças em curso no sistema produtivo capitalista e na divisão internacional do trabalho. É nesse momento que se sobressai a inserção de trabalhadores nacionais do Paraguai em oficinas de costura na RMSP, cujas origens remetem, no tempo, ao fim dos anos 1970 e, no espaço, a distritos do Centro de São Paulo (embora venham cobrando visibilidade atualmente também movimentos às margens da cidade). Tal fenômeno se manifesta majoritariamente no chamado “circuito inferior” da moda, no qual se verificam maiores níveis de informalidade, subcontratação de oficinas e incidência mais notável de trabalho precarizado ou, até mesmo, em condição análoga à de escravo, em um setor fortemente orientado pelos ditames da “moda rápida”, que incluem o encurtamento nos tempos de disponibilização de uma peça de roupa no mercado e de seu descarte pelo consumidor final. Levando-se em conta esse cenário, a presente pesquisa tem por objetivo estudar a relação das redes migratórias com a inserção de paraguaios no setor de confecção têxtil da RMSP nas primeiras décadas do século XXI, adotando-se como hipótese a de que as migrações paraguaias que passam pela capital paulista e suas adjacências seriam altamente rotativas e contariam com suas redes migratórias para o estabelecimento de um espaço de circulação possível frente à reestruturação produtiva global. A metodologia utilizada compreende tanto uma perspectiva quantitativa (com o uso de censos e registros administrativos, além de outras fontes) como qualitativa (nesse caso, com destaque à condução de doze entrevistas semiestruturadas com migrantes paraguaios). Entre os resultados obtidos estão a verificação da consolidação da confecção têxtil como um “nicho étnico” de trabalho por parte de paraguaios radicados em São Paulo, no qual seria recorrente o rápido trânsito dos trabalhadores por ocupações em diferentes estabelecimentos; e ambiguidades que marcam a atuação das redes, que, se, por um lado, tendem a ser decisivas para a viabilização de projetos migratórios (como na mobilização de recursos para o deslocamento e a subsistência nos primeiros dias de vida no exterior e na “abertura de portas” ao mercado de trabalho local) e a proteção contra casos mais destoantes de exploração laboral, por outro, terminam por nutrir, ainda que não deliberadamente (embora, em alguns casos, possa ser), uma cadeia produtiva que comumente submete os próprios paraguaios aos serviços mais precarizados.
Migrações paraguaias à Região Metropolitana de São Paulo e inserção no setor de confecção têxtil nas primeiras décadas do século XXI
Data da defesa:
terça-feira, 2 Abril, 2024 - 09:30
Membros da Banca:
Presidente Profa. Dra. Rosana Aparecida Baeninger Universidade Estadual de Campinas
Membros Titulares Dr. Sebastián Felipe Bruno Universidad de Buenos Aires
Profa. Dra. Ana Silvia Volpi Scott IFCH/ UNICAMP
Dr. Paolo Parise Instituto Teológico São Paulo
Profa. Dra. Roberta Guimarães Peres Universidade Federal do ABC
Membros Suplentes Prof. Dr. Wilson Fusco Fundação Joaquim Nabuco
Profa. Dra. Joice Melo Vieira IFCH/ UNICAMP
Profa. Dra. Cláudia Siqueira Baltar Universidade Estadual de Londrina
Programa:
Nome do Aluno:
Paulo Mortari Araujo Correa
Sala da defesa:
Sala de Defesas de Teses I