Esta dissertação nasce da inquietação sobre os motivos que levam mulheres jovens e sem filhos a buscarem a esterilização voluntária, apesar da ampla oferta de métodos contraceptivos reversíveis e eficientes. A pesquisa se constrói em diálogos profundos com 24 mulheres e pessoas não-binárias, todas entre 21 e 35 anos, que decidiram pela laqueadura. Cada uma dessas histórias foi analisada com a ajuda do software ATLAS.ti, resultando em 220 páginas de transcrições que revelam narrativas marcantes. O perfil dessas entrevistadas reflete um cenário socioeconômico peculiar: em sua maioria, são brancas, heterossexuais, com renda média de dois salários mínimos e formação superior. Mais de 75% optaram pela salpingectomia bilateral, mesmo que não haja dados conclusivos sobre sua eficácia contraceptiva. O que se destaca, no entanto, é a forte desconfiança em relação aos métodos hormonais. A laqueadura surge, para muitas, como um caminho de segurança, uma opção definitiva diante do temor constante de uma gravidez indesejada, num país onde o aborto é ainda criminalizado. A rejeição aos hormônios, alimentada por experiências frustrantes com contraceptivos e pela sensação de abandono por parte dos profissionais de saúde, também emerge como um tema recorrente. A decisão de realizar a laqueadura, portanto, ultrapassa a esfera do controle reprodutivo, envolvendo questões de poder, autonomia e o desejo de não depender mais de um sistema de saúde que parece falhar com elas.
"Meu corpo é um campo de batalhas": mulheres jovens e sem filhos em busca de um método contraceptivo irreversível
Data da defesa:
segunda-feira, 10 Março, 2025 - 14:00
Membros da Banca:
Prof. Dr. Pedro Peixoto Ferreira (Presidente) (Orientador) - IFCH/ UNICAMP
Profa. Dra. Bárbara Geraldo de Castro - IFCH/ UNICAMP
Profa. Dra. Bruna Kern Graziuso - Pesquisador sem Vínculo
Programa:
Nome do Aluno:
Miranda Benez Cefali
Sala da defesa:
Sala de Teses I