O advento da navegação a vapor no rio Amazonas, a partir de 1853, era um projeto que imbricava noções de modernidade e progresso a um processo de racialização do trabalho marítimo. No caso, a racialização é um elemento-chave para discutir lugares de subalternidade designados para os ocupantes de convés e de fogo, na maioria, descendentes de indígenas e africanos. A separação dessas funções, concebida pelo oficialato, não se limitava a organizar as tarefas de bordo, mas buscava ser expandida para interditar a autonomia da marinhagem fora dos navios, durante e após a Abolição. O porto de Manaus é o mundo desembarcado analisado aqui, transformado no início do século XX para atender a alta demanda por borracha amazônica. Ademais, a escolha dos marítimos pela matrícula em Manaus, informa suas próprias aspirações de liberdade naquele espaço, cuja modernização implicava num apagamento da influência indígena e africana na vida portuária. O período estudado abarca o momento em que as associações de marítimos procuraram ressignificar a ocupação dos ofícios para galgar participação política no regime republicano, em contraposição à naturalização da inferioridade dos trabalhos braçais e à exclusão de sua cidadania. O recorte temporal inicia-se com a criação da primeira associação por ofício, em 1905, abrange motins e greves no curso da Grande Guerra, e encerra-se em 1919, quando os marítimos amazonenses propuseram a inserção da categoria na legislação social. Até então, a marinha mercante estivera sujeita à jurisdição militar e proibida de reivindicar direitos junto à classe trabalhadora. Esta tese problematiza a subordinação imposta à marinhagem por viés jurídico, profissional e associativo, considerando a imposição de lógicas de racialização dos anos seguintes ao fim da escravidão. E discute a agência dos marítimos em criarem seus próprios lugares de liberdade nos espaços físicos, nos locais de trabalho e no associativismo. Esta proposta revisita temas da História Marítima, abordados durante a era das velas e o tráfico atlântico, para perceber continuidades e mudanças na era dos vapores e no pós-abolição, em uma região distante do litoral, vulgarmente referida como menos impactada pela escravidão e suas consequências.
Os lugares da marinhagem. Trabalho e associativismo em Manaus, 1905-1919
Data da defesa:
sexta-feira, 2 Dezembro, 2022 - 14:00
Membros da Banca:
Fernando Teixeira da Silva - Orientador (UNICAMP)
Claudio Henrique de Moraes Batalha (UNICAMP)
Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro (UFA)
Aldrin Armstrong Silva Castellucci (UNEB)
David Patrício Lacerda (Pesquisador sem Vínculo)
Programa:
Nome do Aluno:
Caio Giulliano de Souza Paião
Sala da defesa:
Sala Multiuso