No bojo dos esforços para o final do tráfico de pessoas africanas, no início do século XIX, foi criada a categoria de africanos livres. Apreendidos no interior de navios realizando o comércio ilegal, essas pessoas seriam remetidas para o país de origem do navio, nas Américas, e, postas sob um regime de tutela, deveriam cumprir tempo de serviço estipulado pelas autoridades locais antes de se tornarem, de fato, livres. No Brasil, o período seria de 14 anos, supervisionado pelo Ministério da Justiça, que deveria lidar com as questões referentes a tais pessoas. Neste trabalho, analiso as experiências individuais e coletivas das mulheres africanas livres que cumpriram tempo de tutela na cidade do Rio de Janeiro, entre 1831 e 1864, a partir de um recorte que privilegia gênero, raça e classe. Examino suas formas de trabalho, maternidade e emancipação, olhando para as percepções que o mundo senhorial tinha sobre elas e sua moral, a fim de entender como o fato de ser mulher adicionava uma camada à já complexa situação daquele grupo. Argumento que o mundo senhorial, na figura do Ministério da Justiça e seus funcionários, atuava sobre o cotidiano dessas mulheres, desenhando políticas de gênero que determinariam não só o que as africanas deveriam fazer, como se comportar e viver, mas também as formas pelas quais elas desenvolveriam sua sociabilidade e suas estratégias de vida. Essas políticas de gênero tiveram grande peso sobre as formas como as africanas livres se organizaram e conduziram suas vidas durante a tutela, ajudando a moldar não só o cotidiano delas, mas todo o panorama das relações de gênero das mulheres africanas e suas descendentes na sociedade escravista da Corte carioca.
DA LIBERDADE PARA A EMANCIPAÇÃO: TRABALHO, GÊNERO E IDENTIDADES DE AFRICANAS LIVRES NO RIO DE JANEIRO OITOCENTISTA
Data da defesa:
quinta-feira, 17 Dezembro, 2020 - 12:00
Membros da Banca:
Ricardo Figueiredo Pirola - Presidente (UNICAMP)
Lucilene Reginaldo (UNICAMP)
Aldair Carlos Rodrigues (UNICAMP)
Jonis Freire (UFF)
Nielson Rosa Bezerra (UERJ)
Programa:
Nome do Aluno:
Daniela Carvalho Cavalheiro
Sala da defesa:
Integralmente a Distância