O labirinto da autogestão: caminhos e bloqueios da experiência pós-capitalista iugoslava

A tese trata do sistema de autogestão da Iugoslávia, examinando a sua estrutura e dinâmica geral das relações de classe. Fundamentalmente, postulamos que o estudo dos conflitos e alianças de classe é crucial para a compreensão dos limites e possibilidades da autogestão e do projeto socialista iugoslavo. Nossa tese então apresenta e discute o que foi a autogestão iugoslava, levando em consideração as suas diferentes fases históricas e procurando destacar as principais questões e conflitos envolvendo a democracia participativa, o desempenho econômico e a dinâmica das relações de poder. Para melhor situar a avaliação sobre a experiência iugoslava foi realizada discussão teórica acerca das relações entre socialismo, mercado, democracia e autogestão. Em seguida, apresentamos o ponto de vista crítico à autogestão iugoslava desenvolvido pelo grupo Praxis, que foi fundamentalmente uma escola do pensamento iugoslavo constituída em grande parte por filósofos marxistas que propuseram um socialismo humanista. Publicaram a revista Praxis de 1964 a 1974 (e sua edição internacional de 1965 a 1974) e, no mesmo período, mantiveram um encontro anual na ilha de Korčula, na Croácia, no qual participavam nomes de relevo do pensamento crítico e marxista, como Ernst Bloch, Erich Fromm, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, Henri Lefebvre e Ernest Mandel. A análise do grupo Praxis se justifica na tese como uma peça fundamental para esclarecer quais eram a estrutura e dinâmica de classes da Iugoslávia. Sua ação político-intelectual contestadora de certas orientações tomadas ao longo da experiência iugoslava reclamou por uma radicalização da autogestão, criticou a burocratização e a reforma mercantil e realizou uma análise de classes que culminava na crítica à escalada dos nacionalismos. A ação repressora de autoridades iugoslavas colocou fim a atividade docente dos principais intelectuais da Praxis. O entendimento do sentido político da repressão ao grupo Praxis sugere que ele de fato representou a possibilidade de desenvolvimento de uma alternativa política contraditória com o monopólio vanguardista atribuído à Liga dos Comunistas, e também com os privilégios sócio-políticos das camadas sociais dominantes no sistema político-econômico iugoslavo, gradativamente constituídas em classe dominante dividida em duas frações: os dirigentes da burocracia estatal e os gerentes da burocracia empresarial. Finalmente, procedemos a uma tentativa de definição da estrutura e dinâmica de classes na formação social iugoslava pós-capitalista, com base no modelo teórico desenvolvido por Michael Lebowitz para explicar o “socialismo real”. Basicamente, para o autor as chamadas sociedades do “socialismo real” foram formações sociais híbridas compostas por relações de produção de vanguarda e pela reprodução contestada (pelos gerentes de empresas, que incorporaram a lógica do capital), cujo específico modo de regulação de vanguarda (para assegurar a produção das premissas do sistema) era constituído pelo controle dos gerentes por meio do plano administrativo-diretivo e por meio de um contrato social tácito com a classe trabalhadora, cuja lógica manifestava-se em sua “economia moral”. Com uma apropriação desse desenho teórico devidamente adaptado para o singular caso iugoslavo pretendemos contribuir com o entendimento da correlação de forças que bloqueou o desenvolvimento da autogestão, levando em consideração os efeitos das reforma mercantil e da burocratização.

Data da defesa: 
segunda-feira, 27 Março, 2017 - 17:00
Membros da Banca: 
Profa. Dra. Liliana Rolfsen Petrilli Segnini Presidente UNICAMP
Prof. Dr. Sávio Machado Cavalcante Membro UNICAMP
Prof. Dr. Claudio Henrique de Moraes Batalha Membro UNICAMP
Prof. Dr. Antonio José Romera Valverde Membro PUC SP
Profa. Dra. Lúcia Emilia Nuevo Barreto Bruno Membro USP
Profa. Dra. Angela Maria Carneiro Araújo Suplente UNICAMP
Prof. Dr. José Dari Krein Suplente UNICAMP
Prof. Dr. Marcílio Rodrigues Lucas Suplente UFGD
Nome do Aluno: 
Sinuê Neckel Miguel
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses