INFÂNCIAS ENTRE CORTES E ESPELHOS: beleza, consumo e subjetivação numa etnografia com crianças

Esta tese tem como foco de estudo a construção da autoimagem corporal por meninos e meninas pertencentes a diferentes realidades sociais e econômicas, na faixa etária entre 6 e 12 anos, moradores de Brasília e frequentadores de salões de beleza. A partir do princípio de que as crianças são agentes e intérpretes sutis de seus contextos culturais, priorizam-se as narrativas desses sujeitos sociais sobre os processos de construção de sua beleza. Busca-se desenvolver um trabalho etnográfico, com abordagem socioantropológica da infância, fundamentado nos estudos de gênero em uma perspectiva interseccional. Tomando como base os estudos de Kramer (2002), que destacam, em todos os momentos da pesquisa, a preocupação ética, extremamente necessária em trabalhos envolvendo crianças,, são propostos os seguintes objetivos: a) discutir como os marcadores sociais da diferença (geração, classe, raça e gênero), operados nos salões de beleza, são manejados pelas crianças, reverberando nos processos de produção de suas aparências físicas; b) compreender os modos pelos quais crianças de diferentes classes vivenciam e significam a construção de suas aparências físicas, identificando o que isso revela sobre o meio social em que estão inseridas; c) fomentar uma reflexão acerca da construção sociocultural da beleza e suas relações com esses marcadores sociais. A metodologia fundamenta-se nas reflexões de Sarmento (2003), Cohn (2005) e Corsaro (2011), que ressaltam a importância da realização de pesquisas socioantropológicas que primem pelo protagonismo dos pontos de vista das crianças, valorizando, assim, trabalhos feitos com elas e não simplesmente sobre elas. Nesse sentido, este trabalho se engaja no desenvolvimento de formas colaborativas de construção do conhecimento, buscando conferir ênfase às expectativas das crianças e compreendê-las em sua diversidade. Ressalta-se que este estudo destaca os posicionamentos e as negociações de crianças frente às presenças incisivas, em seus cotidianos, do mercado da beleza e da valorização social de um estrito padrão estético.