O imaginário artístico e cultural do cinema de horror italiano e do giallo. Origens, metamorfoses e tramas

Esta pesquisa de doutorado tem por objetivo a identificação e análise da presença das artes visuais no cinema de horror italiano e no giallo, compreendendo suas origens, metamorfoses e tramas. A arte é tema manifesto desde o primeiro longa-metragem oficial do gênero, I Vampiri (1957), de Riccardo Freda. Nele, nota-se pela primeira vez a presença da pintura como símbolo de um tempo vetusto, bem como a retórica do retrato como Doppelgänger pictórico. O topos do duplo e suas imbricações se proliferam nos diversos filmes da década, encontrando um declínio com a chegada dos anos 1970, em decorrência das transformações político-sociais na Itália da contracultura e dos anni di piombo. É nestes anos que a arte passa a ser encarada em seu sentido moderno e disruptivo, cujos filmes estabelecem paralelos evidentes com as efervescências artísticas daqueles anos – o experimentalismo, o happening e a performance, a videoarte. Os anos 1980, por sua vez, retraçam as problemáticas da década, em especial as incorrências geradas pela ascensão midiática de Silvio Berlusconi, que instituem o discurso da visualidade em crise. É nesta década ainda que se evidenciam os paralelos formais entre cinema e pintura, através do uso do plan-tableau. No intuito de compreender tais transformações, a pesquisa se debruçou igualmente no cinema de origem (1905-1926), a fim de identificar os arquétipos formadores dos gêneros. Ali, se condensam os temas proliferados no cinema pós-1957: o tableau vivant; o cotidiano do artista; a arte na esfera macabra; a destruição do objeto artístico; o corpo como arte; a obra de arte viva; a morte pela arte. Esta pesquisa visa, portanto, estudar a reverberação de obras de arte nos filoni por meio de uma análise formal, iconográfica e comparativa dos filmes e das referências neles encontradas.