Esta dissertação analisa a operação historiográfica do Instituto Museu da Pessoa, uma importante instância de produção de conhecimento histórico no panorama historiográfico e patrimonial brasileiro. Para tal, parte-se de um estudo de caso de um projeto feito sob contrato à Fundação Bradesco, resultante no livro Educar para o futuro: Fundação Bradesco 50 anos: 1956-2006, publicado em 2007. O caso é paradigmático da trajetória do Museu, e sublinha os principais fundamentos teóricos e práticos da organização – o terceiro setor, a história oral e a história empresarial, em destaque. Elementos como esses, juntamente com aspectos da Nova Museologia e das mídias digitais, conjugaram-se organicamente na trajetória do Instituto, possibilitando debates que se estendem para além da sua experiência – iluminando aspectos do cenário historiográfico brasileiro de hoje. O objetivo é compreender como o lugar social e as práticas do Museu da Pessoa se conectam em um conjunto operacional que caminha para a consolidação de uma modalidade historiográfica em ascensão no panorama brasileiro das duas últimas décadas. A “história sob encomenda”, produto de projetos historiográficos realizados fora do âmbito acadêmico, sob contrato para empresas e organizações privadas, articula múltiplas vozes da tradição historiográfica em sua constituição. Elementos avessos à disciplina histórica moderna, como a biografia heroica e traços da outras antigas tradições da escrita da história, articulam-se com técnicas como a história oral, compondo uma operação historiográfica que, no final das contas, trabalha com intuito de entrega de um produto ao gosto do cliente. O teor de autolegitimação da narrativa coincide forma e conteúdo, em um discurso que possui caráter político, alinhado aos princípios do capitalismo liberal, em que as empresas contratantes se regozijam. Compreender e responder, em termos historiográficos, a essa rede de instituições privadas, que, para além de seu poderio político e econômico, articula-se produzindo suas próprias narrativas históricas, é um desafio aos historiadores contemporâneos. Trata-se de uma demanda essencial, no entanto, sem a qual é impossível caracterizar a história da historiografia brasileira contemporânea e pensar em formas efetivas para a atuação profissional na esfera pública.
Transmissão ao vivo: https://youtu.be/7sHDTx9ZyWg