Este trabalho é uma reflexão sobre duas importantes dimensões da atividade sindical: a greve e a negociação coletiva. Partindo-se da contextualização desses instrumentos no âmbito do Sistema Brasileiro de Relações de Trabalho, erigido nas primeiras décadas do século passado (especialmente a partir da “Revolução de 1930”), buscou-se combinar uma abordagem teórico-conceitual com uma abordagem histórica e normativa, identificando as experiências concretas, à luz da legislação brasileira sobre greve e negociação em cada momento.
Para essa reflexão, considerou-se brevemente, como “pano de fundo”, um período estendido, que se inicia no final do século XIX, com a proclamação da República (1889) e os primórdios do desenvolvimento de um mercado de trabalho genuinamente capitalista, após a abolição da escravatura de mais de 300 anos. Mas o olhar mais detido voltou-se para o período compreendido entre 1978 – ano da retomada do movimento sindical e grevista, ainda durante a ditadura civil-militar implantada no Brasil em 1964 – e o ano de 2018, que marca o fim do mandato-tampão de Michel Temer na presidência da República, após o golpe parlamentar-institucional travestido de “impeachment” da ex-presidente Dilma Rousseff.
Nas quatro décadas do estudo empírico (41 anos), buscou-se identificar os ciclos de greves e seus múltiplos determinantes, de natureza econômica, social, política e ideológica, bem como os processos de negociação coletiva mais relevantes. No caso dos ciclos de greves, partiu-se de um conceito inédito de ciclo grevista, que relaciona a frequência anual de greves – obtida a partir do banco de dados do Sistema de Acompanhamento de Greves (SAG) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) – e a frequência anual mediana de greves para o período analisado.
Por fim, o trabalho procura estabelecer um diálogo com autores(as) da que é aqui chamada “Sociologia e Ciência Política Críticas do Trabalho”, em torno da relação que existe entre greve e negociação coletiva, no contexto da ação sindical do “Novo Sindicalismo”, que emerge no final dos anos 1970. A tese esposada neste trabalho é a de que não há uma relação de antítese entre greves e negociação coletiva no seio das estratégias sindicais, senão uma relação de complementaridade dialética entre essas duas dimensões da luta dos(as) trabalhadores(as).