A tese tem como objetivo investigar as identidades e as experiências dos trabalhadores africanos da cidade de Lourenço Marques entre o final do século XIX até meados da década de 1930. Os batuques praticados no espaço urbano serão tomados como uma janela privilegiada para o mundo dessas pessoas. Localizada no sul de Moçambique, a cidade de Lourenço Marques tornou-se capital do colonialismo português na região na década de 1890, tendo crescido aceleradamente nas primeiras décadas do século XX. Sua importância estratégica enquanto lugar de passagem de trabalhadores e mercadorias atraiu uma população diversificada, composta por pessoas de diferentes regiões: europeus de diversas nações, indianos, chineses e, sobretudo, africanos que habitavam as áreas rurais ao redor da cidade ou ao sul do rio Save. Esse crescimento foi acompanhado por um processo de aprendizagem da colonização pelo poder metropolitano. No bojo deste processo foram elaboradas categorias classificatórias que, do ponto de vista social e jurídico, visavam criar homogeneizações e, por conseguinte, controlar a população sob o domínio português. No entanto, a categorização das populações urbanas originárias do atual Moçambique pelo discurso colonial não dá conta da multiplicidade das identidades e experiências desses sujeitos.