O gênero do trabalho operário: condições de trabalho, divisão sexual e práticas sociais em indústrias metalúrgicas dos segmentos automotivo e eletroeletrônico

Esta tese analisa as condições de trabalho e práticas sociais operárias em indústrias metalúrgicas dos segmentos automotivo e eletroeletrônico, localizadas no ABC Paulista e Interior do Estado de São Paulo. A problemática da divisão sexual do trabalho e das relações de gênero guia as reflexões da tese sobre como o trabalho é diferencialmente atribuído e valorado entre os sexos, mas também atravessa a caracterização das condições de trabalho e das práticas sociais operárias. A tese busca responder em que medida há aproximações das condições de trabalho entre os dois segmentos, em um contexto de um realinhamento neoliberal que atravessa as formas de trabalho no Brasil desde 2014. Examino para tal o crescimento das demissões, o processo de desnacionalização da cadeia produtiva automotiva e as tendências de precarização do emprego e trabalho nesse segmento, que o tornam cada vez mais parecido com o eletroeletrônico. O uso da força de trabalho, que reproduz tendências internacionais de alocar homens na indústria automotiva e mulheres na eletroeletrônica, é examinado nas realidades regionais (ABC e Interior) a partir da problemática da segregação setorial e ocupacional e da desigualdade salarial. Mas procuro elucidar como a análise de gênero sobre o trabalho não se restringe a tais elementos – quando discuto a construção social da segregação e da discriminação feminina e os processos de feminização e mixidade do trabalho (automotivo). O contexto de inflexão neoliberal atravessa a divisão sexual de duas maneiras: uma delas, criando “falsos alarmes” de avanço na participação feminina nos segmentos, quando em realidade a instabilidade e demissões afetaram ambos os sexos (mais mulheres no eletroeletrônico e mais homens no automotivo). Outra maneira é retrocesso das trajetória das poucas mulheres que desenvolveram algum avanço de carreira nas fábricas (são tiradas da produção e realocadas na logística, ou priorizadas em afastamentos como os lay-off). As causas, características e consequências das condições de trabalho nos segmentos/regiões são analisadas com base, sobretudo, em entrevistas. Como fatores que integram causas das condições de trabalho, considero a situação do mercado de trabalho em especial desde 2014, as formas de organização do trabalho e da produção e a gestão do trabalho – cujos princípios neoliberais de individualização e concorrencialismo, assim como as práticas de intensificação estão presentes em ambos segmentos. As condições de trabalho propriamente são analisadas, à luz das reflexões de gênero, nas dimensões do ambiente de trabalho, da situação dos postos, dos ritmos de trabalho, das pausas durante a jornada, da demanda de força nas operações e dos desvios do trabalho prescrito. Abordo as consequências das condições de trabalho nos segmentos sobre a saúde, evidenciando o caráter penoso frequentemente não reconhecido do trabalho das operárias, que ajuda a ocultar os adoecimentos que dele decorrem. Por fim, são discutidas as práticas sociais de operárias/os: experiências e percepções a respeito da própria atividade, modos de vivenciar as condições de trabalho e práticas sociais operárias, direcionadas ou não a resistências. A subjetividade, a solidariedade, a (des)valorização do trabalho feminino e a auto-organização de operárias são problemáticas enfrentadas dentro desse debate.

Data da defesa: 
segunda-feira, 29 Julho, 2019 - 17:00
Membros da Banca: 
Profa Dra Márcia de Paula Leite - Presidente
Profa Dra Angela Maria Carneiro Araújo - Titular
Prof Dr Alvaro Augusto Comin - Titular
Profa Dra Nadya Araújo Guimarães - Titular
Prof Dr Jacob Carlos Lima - Titular
Profa Dra Magda Maria Bello de Almeida Neves - Suplente
Prof Dr Roberto Véras de Oliveira - Suplente
Profa Dra Cibele Saliba Rizek - Suplente
Nome do Aluno: 
Thaís de Souza Lapa
Sala da defesa: 
Sala da Projeção