O principal objetivo desta tese é discutir a produção do futuro de São Paulo, com foco nas transformações dos destinos da cidade ocorridas na década de 1950. Durante a primeira metade do século XX, a imagem dominante do seu futuro era a de uma metrópole gigantesca, funcionando de maneira harmoniosa e marcada pela ordem e pelo progresso. Na segunda metade, em contraste, a representação hegemônica, embora também imaginasse uma metrópole gigantesca, apostava em um futuro de caos e paralisia, provocados pelo excesso de problemas urbanos. Portanto, um destino que se previa glorioso passou a ser visto como trágico. Foi nos anos 1950 que se deu a passagem de uma imagem a outra. Contudo, ao longo dessa década, ambos esses destinos coexistiram sem se anularem, produzindo um futuro esgarçado para São Paulo. Naquele momento, a metrópole estava predestinada a ser o paraíso e o inferno ao mesmo tempo.
Para discutir tanto a passagem de um futuro ao outro quanto o próprio futuro esgarçado, esta tese analisa não só as diferentes representações dos destinos de São Paulo, como também as condições sociais de produção dessas imagens. Nesse sentido, investiga-se a caracterização, a emergência e a rotinização dos destinos mais poderosos da cidade e, ao mesmo tempo, alguns personagens históricos que encarnaram de maneira especialmente privilegiada cada um desses futuros. Três desses personagens receberam o papel de protagonistas na tese: Francisco Prestes Maia, Luiz de Anhaia Mello e Florestan Fernandes. Prestes Maia era, na década de 1950, um importante gestor público, ex-prefeito de São Paulo e um urbanista de renome. Imaginava um futuro de glória e progresso para a metrópole, representando o discurso que foi hegemônico até aquele momento. Anhaia Mello também era um gestor público experiente e um urbanista reconhecido, mas se colocava como o principal opositor de Prestes Maia. Anhaia Mello previa um futuro apocalíptico para uma São Paulo que continuasse crescendo, mas oferecia também um destino alternativo para a metrópole – que se veria transformada em uma confederação de pequenas cidades-jardim. Fernandes, por sua vez, começou os anos 1950 como um aspirante no mundo intelectual e terminou a década como o mais importante sociólogo brasileiro. O líder da "Escola Paulista de Sociologia" encarnou tanto a transformação das expectativas de futuro quanto o próprio esgarçamento. O sociólogo, que era otimista em relação aos destinos de São Paulo, foi mudando de opinião conforme as ideias de Anhaia Mello se tornavam mais conhecidas, o campo intelectual paulistano se tornava mais autônomo e ele próprio assumia uma posição de destaque nesse campo. No final da década, Fernandes olhava com pessimismo para o futuro da cidade, embora sustentasse uma pequena esperança baseada na educação.
Ao longo da tese, conta-se a história das transformações no futuro de São Paulo com base nas ideias e nas atuações desses protagonistas. Mas, além deles, a tese também analisa um conjunto de coadjuvantes e personagens secundários, bem como da imprensa paulistana, que tiveram papel decisivo na desconstrução do destino épico da metrópole e na construção da cidade de futuro trágico.
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