Em 1996 iniciou-se na Espanha um processo judicial contra os repressores argentinos. A causa, baseada em princípios de justiça universal, teve participação ativa de exilados argentinos de primeira e segunda geração, e ajudou a consolidar novas formas de compreender a ditadura no país latino-americano.
Para aqueles que haviam deixado a Argentina contra sua vontade, a abertura de um processo penal no país de acolhida criou um espaço importante de debate acerca do desterro, mas também permitiu que eles próprios reelaborassem a experiência vivida. Diante de um tribunal que não pretendia encontrar culpados para além das forças de segurança, exilados puderam falar e foram ouvidos, dando novas cores e nuances às memórias do período repressivo.
Para seus filhos, esse processo judicial também foi bastante importante. Desprezados como categoria nos primeiros anos da democracia, e descritos apenas como efeito colateral das perseguições, esses jovens colocaram-se no espaço público, e impactos pelos discursos veiculados pelos tribunais, pela mídia e pelo seu próprio entorno familiar, mostraram que as consequências do exílio iam muito além do que se havia tratado até aquele momento.
Nessa tese, mostra-se como o papel da justiça, em casos de violações de direitos humanos, vai muito além de julgar. As teses e defesas utilizadas por ela repercutem no espaço público, e podem ajudar a vítimas até então silenciadas a colocarem-se no espaço público, tornando as memórias da repressão mais plurais e menos cristalizadas.