Entre vientes e nativos: Mineração, Mobilidade, Violência e (re) existências em Montepuez, Moçambique

As interacções entre comunidades nativas e imigrantes têm despertado atenção sobre a permanente relação entre pessoas e as suas afeições de pertencimento que têm sobre um determinado lugar. Em Moçambique, a guerra civil havida logo a seguir a independência nacional, foi caracterizada por uma histórica mobilidade de pessoas das zonas rurais (onde os conflitos eram mais intensos) para os centros urbanos, em busca de refúgio tanto quanto de possibilidades de emprego e acesso a serviços sociais básicos. Com a pacificação, Moçambique experimenta outras orientações políticas e económicas, com vista a articulação de novas estratégias sinalizando para uma abertura de economia. Nessa transição, a agricultura familiar, que continuava a ser a base de aprovisionamento de maior parte da população rural, sofre uma severa redução de investimentos, devido ao alto endividamento do país, e se inaugura, um novo discurso político virado para industrialização. Em Montepuez, Distrito do sul da Província de Cabo Delgado, região norte de Moçambique, a descoberta de enormes jazidas de pedras preciosas, com destaque para o rubi, inverteu a direcção da mobilidade do campo para cidade, trazendo pessoas de origens diversas, dos grandes centros urbanos para o pequeno Posto Administrativo de Namanhumbir. Diante da diferenciação entre nativos, aqueles que chamam a si de “donos da terra, perante aqueles que vem de fora” para trabalhar tanto nas novas empresas, como para o garimpo de rubis, começam a surgir antagonismos pela partilha de terra, que agora é transformada em campos de mineração. Os rongas de Maputo, ndaus e senas de Sofala são categorizados como estrangeiros, quanto os guineenses ou tailandeses, e por isso chamam-lhes de vientes (referente a aquele que veio). Com base em trabalho de campo realizado entre as aldeias de N’thoro, N’seue, Nanune e Namanhumbir sede, e através de análises de extensivos dados sobre a interacção entre nativos e vientes, esta tese reflecte sobre a mobilidade imposta pelas novas descobertas de minerais e as suas múltiplas dimensões e como elas se apresentam para Montepuez e seus nativos na luta e reivindicação à ideia de pertencimento à terra. Essas experiências, significativas para a vida local, que na maioria das vezes, geram as mais diversas formas de violência (simbólica, física e psicológica) são aqui examinadas através de vocábulos e categorias particulares dos nativos: os donos da terra; os vientes; morrer pela nossa riqueza e recuperar nossa terra. É a partir da análise de quatro processos e conceitos chaves (mineração, mobilidade, violência e (re) existências), que se configuram como chaves para compreensão do actual conflito entre o nativo e viente, entre as transformações do habitat rural que se impõem nas aldeias e as diversas lutas dos grupos nativos, que se teceu a presente tese. 

Data da defesa: 
sexta-feira, 27 Agosto, 2021 - 09:00
Membros da Banca: 
Profa. Dra. Emilia Pietrafesa de Godoi - Presidente
Prof. Dr. Lorenzo Gustavo Macagno - Titular
Profa. Dra. Marjolein Elizabeth Maria de Theije - Titular
Prof. Dr. Omar Ribeiro Thomaz - Titular
Prof. Dr. Inácio de Carvalho Dias de Andrade - Titular
Prof. Dr. Christiano Key Tambascia - Suplente
Profa. Dra. Marilda Aparecida de Menezes - Suplente
Prof. Dr. Paolo Israel - Suplente
Nome do Aluno: 
Zacarias Milisse Chambe
Sala da defesa: 
Integralmente à distância