A paisagem cultural no âmbito da preservação do patrimônio está relacionada à valorização de territórios onde tenham se desenvolvido relações peculiares entre as pessoas e o espaço físico. A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) foi a primeira a tornar o conceito uma tipologia do patrimônio ao inclui-lo na Lista do Patrimônio Mundial em 1992. Dentro dessa instituição, há uma tendência em associá-lo a contextos rurais e/ou com forte presença da natureza, como parques, sítios e etc. No Brasil, foi com a instauração da chancela da Paisagem Cultural Brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) que o conceito adentrou no âmbito patrimonial. O primeiro exemplar reconhecido pelo IPHAN foram os Núcleos Rurais adjacentes de Testo Alto (Pomerode) e Rio da Luz (Jaraguá do Sul), em Santa Catarina. O Conjunto Rural está situado em uma região que recebeu desde meados do século XIX imigrantes europeus, em sua maioria de origem germânica, e que por conta da política de demarcação dos lotes coloniais durante esse período, possui, ainda hoje, um número significativo de pequenas propriedades rurais de produção agrícola de subsistência. Investigou-se nessa pesquisa que as razões para a escolha desse local como primeira paisagem cultural brasileira são diversas. No âmbito da instituição de salvaguarda, as razões incluem tanto demandas internas da 11ª Superintendência Regional do IPHAN no estado de Santa Catarina e a posição estratégica ocupada por um de seus técnicos na época do reconhecimento, quanto da necessidade do IPHAN nacional em adequar-se aos parâmetros internacionais de classificação do patrimônio cultural. Porém, verificou-se durante a pesquisa que a noção de paisagem cultural como denotando uma associação entre Cultura e Natureza vinha sendo utilizada como estratégia de promoção da localidade há tempos, consolidando uma relação naturalizada entre paisagem e germanidade. Isto posto, formulou-se a hipótese de que houve ali uma espetacularização da paisagem, transformada em um cenário de lazer e em um bem de consumo comercializado no universo do Turismo Cultural. Essa dissertação teve como foco a investigação da produção e da divulgação de discursos, textuais e imagéticos, sobre a paisagem cultural do município de Pomerode. Dessa forma, optou-se por trabalhar com três principais fontes de pesquisa: a Prefeitura Municipal de Pomerode, no papel de produtor de uma imagem oficial do local; a Revista Quatro Rodas, funcionando nesse contexto como uma voz exógena que ofereceu pistas de como a cidade era mostrada para o restante do país; e o IPHAN, na condição de instituição autorizada do patrimônio. Concluiu-se que as continuidades narrativas encontradas nas três instituições demonstram a perpetuação de discursos hegemônicos sobre a memória, a história e o patrimônio do território em questão, ocultando outras realidades que coexistem na mesma paisagem. Por outro lado, sendo a paisagem também prática cultural, considera-se que a sua espetacularização serviu igualmente como ferramenta de negociação do Poder Público e da população local, auxiliando no fomento de políticas públicas e na conservação da cultura teuto-brasileira.
ENTRE IMAGENS E EMBLEMAS: TURISMO, PATRIMÔNIO E A PAISAGEM CULTURAL EM POMERODE/ S.C.
Data da defesa:
terça-feira, 31 Outubro, 2017 - 11:00
Membros da Banca:
Profa. Dra. Aline Vieira de Carvalho (IFCH/UNICAMP) - Orientadora
Profa. Dra. Daniela Pistorello (UDESC) - Membro
Profa. Dra. Silvana Barbosa Rubino (IFCH/UNICAMO) - Membro
Profa. Dra. Iara Lís Franco Schiavinatto (IFCH/UNICAMP) - Suplente
Profa. Dra. Patricia Nunes da Silva Mariuzzo (LABJOR/UNICAMP) - Suplente
Programa:
Nome do Aluno:
Bárbara de Oliveira Ribeiro Gemente
Sala da defesa:
Sala de Defesa de Teses
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