Duas concepções de esfera pública na obra de Jürgen Habermas

Esta pesquisa busca comparar duas concepções de esfera pública na obra de Habermas, expressas em Mudança estrutural da esfera pública, de 1962, e na Teoria da ação comunicativa, de 1981. Como será demonstrado, o primeiro diagnóstico formulado por Habermas se encerra com a análise da derrocada do fenômeno da esfera pública burguesa no contexto do Estado de bem-estar social no século XX, em decorrência da influência do intervencionismo estatal e da cultura de massas no debate público. Essa concepção é criticada amplamente após sua publicação, por questionamentos que se voltam para a aplicabilidade do conceito de esfera pública no capitalismo tardio. Como pretende-se mostrar nesta dissertação, na obra de 1981 Habermas elabora um novo quadro teórico, ancorando a esfera pública na própria prática comunicativa cotidiana e reposicionando-a em sua concepção da sociedade em dois níveis: sistema e mundo da vida, movimento que o autor ressalta no prefácio à nova edição de Mudança estrutural lançada em 1990. A hipótese de leitura desta pesquisa é a de que, para além desses novos pressupostos teóricos, a esfera pública é repensada por Habermas em função de seu diagnóstico do capitalismo, em que o sistema se volta para o mundo da vida em um movimento de colonização, de modo que esse conceito reaparece enquanto locus em que esse embate se dá, tendo a função de, como expresso no prefácio de 1990, “sitiar” os imperativos colonizadores e defender a autonomia do mundo da vida.