A distinção entre o social e o político em Hannah Arendt à luz da Questão Judaica

A distinção categórica entre o social e o político que Hannah Arendt apresenta em A Condição Humana, publicada em 1958, se apresenta como uma das principais controvérsias de seu pensamento. Ao empreender essa separação, Arendt pretendia indicar a emergência de uma nova esfera na Modernidade, a social, e com isso indicar a perda da dignidade da política, o crescente encolhimento da esfera pública e redução das possibilidades de participação política. Contudo, ao cindir de forma rígida o que seria pertencente ao domínio político e ao domínio social, a distinção de Arendt acaba provocando sérias consequências deficitárias, que tornariam essa distinção um dos principais alvo da literatura crítica desde a década de 1970. Esta crítica foi capaz de identificar que, segundo essa distinção, temas econômicos não poderiam ser compreendidos como problemas políticos, nem qualquer outro assunto que estivesse vinculado à chamada esfera privada; a pobreza não seria considerada um problema político de primeira grandeza, assim como o racismo sofrido pelas pessoas negras, e a esfera pública, compreendida a partir de uma perspectiva grega, acabaria por manter mulheres à margem da participação política. Ao se ancorar na experiência da Grécia Antiga para empreender essa distinção, de acordo com parte da crítica, Arendt se torna vítima de um certo gregocentrismo que obsta que tal separação nos sirva para pensar os problemas políticos de nosso tempo. Essa tese se propõe a refletir sobre essa distinção na tensão de reconhecer seus limites e propor, ao mesmo tempo, considerar o tema a partir de outra interpretação. O presente trabalho, portanto, está de acordo com as críticas que apontam para os déficits dessa distinção, mas se dedica a oferecer uma nova perspectiva para pensá-la: a partir das reflexões que Arendt empreendeu sobre a Questão Judaica e de sua própria experiência enquanto judia. Defendo, assim, que as raízes dessa distinção se encontram na Questão Judaica e ofereço uma análise de como ela emerge a partir dos Escritos Judaicos e de sua própria biografia, textos que não encontram o mesmo reconhecimento filosófico que outras obras da autora. A partir dessa interpretação, podemos identificar os problemas que mobilizaram Arendt a empreender uma rígida distinção entre os dois domínios e sua defesa de que integração social não implica necessariamente em participação política: o fracasso da emancipação e da assimilação dos judeus modernos na Europa e os erros cometidos pela organização sionista, sobretudo no século XX. Ao longo de 150 anos na Europa, esse povo foi, no máximo, tolerado, mas não integrado politicamente a essa comunidade. O afastamento da política, a busca pela sobrevivência a qualquer preço, a tentativa desesperada de aceitação a partir de ajuste a certos padrões e a ilusão de que dinheiro compraria direitos humanos conduziram o povo judeu à catástrofe da total perda de direitos no início do século XX.

Data da defesa: 
sexta-feira, 1 Abril, 2022 - 14:00
Membros da Banca: 
Presidente Profa. Dra. Yara Adario Frateschi IFCH/ UNICAMP
Membros Titulares Dr. Helton Machado Adverse Universidade Federal de Minas Gerais
Dr. André de Macedo Duarte Universidade Federal do Paraná
Dra. Anabella Di Pego Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas - CONICET
Dr. Igor Vinícius Basílio Nunes Instituto Federal de Goiás - Câmpus Senador Canedo
Membros Suplentes Dra. Daiane Eccel Universidade Federal de Santa Catarina - Florianopolis
Dr. Rodrigo Ribeiro Alves Neto Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Profa. Dra. Monique Hulshof IFCH/ UNICAMP
Programa: 
Nome do Aluno: 
Nádia Junqueira Ribeiro
Sala da defesa: 
Sala de Defesas de Teses I