Dinâmica da Mortalidade e Transição da Saúde no Estado de São Paulo, 1900-1969

O propósito desta tese é investigar a transição da saúde no Estado de São Paulo durante as primeiras décadas do século XX, um processo abrangente marcado pelo declínio da mortalidade, mudanças no perfil epidemiológico e transformações na organização dos recursos de saúde. Utilizando diversas fontes como registros de óbitos, relatórios, estatísticas demógrafo-sanitárias e dados censitários, reconstruímos séries de população e óbitos para a Capital e outros municípios do interior de São Paulo, em um período pouco tratado pelos estudiosos de população. A primeira metade do século XX foi caracterizada pela desarticulação de duas características principais dos regimes demográficos anteriores: crises de mortalidade e altos níveis de mortalidade. Através da construção de tábuas de mortalidade para a Capital e o Interior, investigamos as dimensões do processo de transformação das cidades anteriormente consideradas "insalubres" em pioneiras na conquista da saúde. Destacamos a relação entre o declínio da mortalidade e fatores institucionais, como a expansão da rede de assistência, a organização da saúde pública e a introdução de novas descobertas médicas, como elementos fundamentais do início da transição de saúde no Estado de São Paulo. Até 1930, observou-se uma redução da mortalidade nas regiões que foram palco das primeiras reformas sanitárias, com o declínio das doenças infecciosas de transmissão respiratória e aquelas transmitidas por água e alimentos. Essas medidas são parcialmente creditadas pela atenuação das crises de mortalidade. A partir de 1930, a Capital liderou os ganhos de esperança de vida, impulsionada pela difusão de novas tecnologias, como os antibióticos. A transição da predominância de doenças infecciosas para doenças cardiovasculares, crônicas e degenerativas coincidiu com o processo de industrialização e urbanização que alterou a estrutura social com a formação de metrópoles nacionais.