DIFERENCIAIS DE FECUNDIDADE SOB UMA PERSPECTIVA DE COORTE: UM OLHAR PARA MIGRAÇÃO RURAL-URBANA NO BRASIL

Há uma intrigante e pouco explorada relação entre a migração das mulheres e transição da fecundidade no Brasil. Há estudos que apontam que a migração possa ser uma causa da manutenção da fecundidade em patamares elevados. O mecanismo desta interação, porém, não é claro, pois há outros estudos que indicam que a fecundidade de migrantes é, ao contrário do que se esperaria, menor que a de não-migrantes. O objetivo central desta tese é investigar esta relação, focando em compreender o fluxo de migração interna rural/urbano no início da transição da fecundidade no Brasil, no início dos anos 1960. Diferentemente de outros estudos neste tópico, utilizamos uma abordagem de fecundidade de coorte e uma abrangência geográfica maior, envolvendo o Brasil, em sua totalidade, mas suas grandes regiões, de forma particular, uma vez que, como é bem sabido, o declínio da fecundidade se deu de formas diferentes nas diferentes regiões. Visamos responder, nesta tese, às seguintes perguntas: (1) há diferenciais de fecundidade entre grupos de imigrantes durante a transição demográfica? e (2) há uma contribuição relevante dos processos de migração para o declínio da fecundidade? Para a pergunta (1), mostramos que existe um diferencial de fecundidade entre migrantes do rural/urbano e não-migrantes, diferencial este que foi se reduzindo ao longo de diferentes coortes, mas que ainda se manteve significativo nas regiões Norte e Nordeste. Para a pergunta (2), com base nos resultados da decomposição, nossos estudos indicaram uma resposta positiva, com estimativas quantitativas do papel da migração para o declínio da fecundidade no Brasil, reduzindo o ritmo de queda da fecundidade.