Esta tese visa investigar a formação do conceito de ideologia nas obra da década de 1960 de Louis Althusser. Temos como fio condutor a hipótese que há uma solidariedade prática entre a maneira com que Althusser concebe a ideologia como um “sistema de representações” (uma estrutura do “todo social” e a “ilusão transcendental” presente nos conceitos da razão na “Crítica da Razão Pura” de Immanuel Kant. Este vínculo permite compreender o lugar (topos) no qual opera o pensamento de Althusser, na medida em que busca negar a tese de que Marx tenha apenas “invertido” a dialética hegeliana: “Ela está para ele de cabeça para baixo. Deve-se invertê-la [umstülpen], para descobrir o caroço[Kern] racional no envoltório [Hülle] místico” (MARX 1985:20-21). Desse modo, poder-se-á notar que o caráter específico da dialética marxista - resultado da crítica às categorias hegelianas e ao empirismo vulgar da economia política clássica - retoma em alguma medida os conceitos presentes na “Dialética Transcendental”, principalmente no que se refere ao estatuto da ilusão que opera nas relações de produção: ao instalar-se no terreno da ideologia, isto é, ao relacioná-la ao inconsciente como um “sistema de representações” que se mantém mesmo numa “sociedade sem classes”, Althusser não estaria se colocando no mesmo terreno de Kant, na medida em que a aparência dos raciocínios da razão não se dissipa mesmo que possamos evitar que ela nos engane, como é o caso da “ilusão necessária” presente da “Dialética Transcendental”? Em que medida esse modo de instalar-se frente à ilusão inevitável (leia-se, ideologia) não pode ser visto como reflexo da noção de totalidade elaborada por Althusser ? É sob a perspectiva de um possível “retorno a Kant” que investigaremos a noção de Ideologia em Althusser.