COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS: DESIGUALDADE NO ACESSO E ESTRATIFICAÇÃO HORIZONTAL em 2010 e 2016.

O objetivo desse trabalho é mapear e qualificar o quanto o acesso de estudantes pretos e pardos às universidades federais avançou após a implementação de políticas de cotas em 2012. Nas últimas décadas, a proporção de pretos e pardos com curso superior completo já se encontrava em crescimento, tal como estava ocorrendo com a população brasileira como um todo, como resultado da ampliação do número de concluintes em outras etapas do ensino e do próprio sistema universitário, impulsionado, sobretudo, pela multiplicação de universidades privadas. Para melhor compreender o fenômeno, trabalha-se com dois conceitos-chave: estratificação vertical e horizontal na educação. O primeiro conceito diz respeito ao diferencial de acesso a cada nível educacional, pensados de forma hierarquizada. Quanto mais elevado for o nível educacional, menor o acesso dos grupos em desvantagem social comparativa, sendo esse um traço marcante de sociedades altamente desiguais. Já a estratificação horizontal diz respeito a disparidades dentro de um mesmo nível de ensino. Os grupos sociais em desvantagem social até se inserem em níveis educacionais superiores, porém em cursos de menor prestígio e menores chances de mobilidade socioeconômica se comparado a seus pares procedentes de grupos privilegiados. Os dados analisados são provenientes dos censos da educação superior realizados entre 2010 e 2016; também se utiliza de forma complementar dados do censo demográfico de 2010. Em linhas gerais, as universidades federais apresentam resultados positivos quanto ao combate à estratificação vertical, contudo, a estratificação horizontal dá mostras de ser mais difícil de ser vencida. Há áreas do conhecimento em que persiste a alta concentração de estudantes brancos, justamente aquelas que podem promover maior empregabilidade e ganhos financeiros.