Comentar

Da violência ao amor: economias sexuais entre "crimes" e "resgates" em Fortaleza

Esta tese trata do enfrentamento a “crimes sexuais” em Fortaleza. Seu objeto transborda, porém, o conjunto de práticas que costumavam aparecer juntas e que chamei de “crimes sexuais”: tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, exploração sexual de crianças e adolescentes, “turismo sexual” e, às vezes, abuso sexual. A partir da análise do cotidiano do “resgate”, em que agentes do enfrentamento a esses “crimes” encontravam as supostas “vítimas”, eu desenvolvo meu argumento principal de que, nas margens de Fortaleza, as políticas de enfrentamento a “crimes sexuais” se desfaziam e se misturavam às dinâmicas das economias sexuais. Sustento este argumento na análise etnográfica realizada entre 2015 e 2017 acompanhando os projetos missionários de enfrentamento a esses “crimes” da Sociedade da Redenção, no Pirambu, e da Missão Iris, no Moura Brasil e na Praia de Iracema. Nesses locais, compartilhei o cotidiano das pessoas consideradas “alvo” do enfrentamento a esses “crimes” e percebi que a incidência de “crimes sexuais” era secundária, se não inexistente, e as categorias do “resgate” eram articuladas às categorias da diferença para produzir desigualdades na indeterminação das margens. Ao mesmo tempo, as pessoas consideradas “vítimas” desses “crimes” eram confrontadas por crises recorrentes que minavam os suportes para suas vidas e dos seus. Nestes contextos, a gestão da vida através de sistemas morais era operada por instâncias estatais, missionárias e facções, que apesar das diferenças, coincidiam ao enfatizar normas de gênero e sexualidade dicotômicas. Considerei que, muitas vezes, as políticas de enfrentamento a “crimes sexuais” procuravam “dar voz” a sofrimentos que não eram reconhecidos, relegando as “vítimas” ao lugar da falta. Interessei-me, então, nas maneiras como essa “mudez” era enfrentada pelas supostas “vítimas”, observando que elas iam desde o reforço das dicotomias até a produção de novos saberes. Essas observações me levam concluir que a indeterminação das fronteiras entre políticas de enfrentamento a “crimes sexuais” e dinâmicas das economias sexuais pode ser percebida não somente nos mecanismos de governo, mas também nas experiências corporificadas dos sujeitos.

Data da defesa: 
terça-feira, 4 Dezembro, 2018 - 16:00
Membros da Banca: 
Profa Dra Adriana Gracia Piscitelli - Presidente
Profa Dra Maria Filomena Gregori - Titular
Profa Dra Natália Corazza Padovani - Titular
Profa Dra Adriana de Resende Barreto Vianna - Titular
Profa Dra Jânia Perla Diógenes de Aquino - Titular
Profa Dra Iara Aparecida Beleli - Suplente
Prof Dr Gabriel de Santis Feltran - Suplente
Profa Dra Laura Moutinho da Silva - Suplente
Nome do Aluno: 
Ana Paula Luna Sales
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses I
CAPTCHA
Esta questão é para testar se você é ou não um visitante humano e para prevenir envio automático de spam.
1 + 3 =
Solve this simple math problem and enter the result. E.g. for 1+3, enter 4.