Os tempos da colônia: etnografia sobre movimentos, dores e cuidados entre os colonos alemães do sul do Brasil
Enviado por secr_pos_csociais em qui, 06/09/2018 - 13:48Essa tese nos leva até às colônias. Leva-nos até as terras dos alemães do sul do Brasil, na Encosta da Serra, estado do Rio Grande do Sul. Leva-nos até São Martinho, por onde vivi 16 meses, entre 2015 e 2016. Viver na comunidade, veremos, trazia consigo o problema da percepção do tempo. Especificamente, da relação entre tempo, dor e movimento, composição elementar de sua socialidade. Falar sobre tempo entre os colonos alemães era falar sobre sua relação com a dor, sobre os modos como se falava a respeito da dor, assim como sobre os modos pelo qual se vivia a dor, na relação cotidiana com aqueles que lhe eram próximos. E falando sobre tempo e sobre dor, moradores e moradoras falavam também sobre seus lugares, sobre seus movimentos, sobre sua rotina. Para cada tempo, havia uma medida de dor e de movimento, que se fazia por narrativas, por vivências, por partilha de aflições cotidianas, pela relação com lugares e pessoas. Essa tese trata desses tempos. Especificamente, trata da partilha dos tempos em uma colônia alemã do sul do Brasil, através de sua relação elementar com a dor e com o movimento. Ao longo do texto, defendo três argumentos principais: a) que o tempo se apresentava como uma realidade convencional da socialidade martinense; b) que isso se dava a partir de sua relação com o movimento chamado por moradores e moradoras de sair de casa, isto é, modos de se dedicar aos afazeres e às relações que compunham seus tempos; c) e também por sua relação com a dor, como o princípio incitador dessa socialidade, próprio do mundo das colônias do sul do Brasil, que se apresentava como cuidados e narrativas de sofrimento. Cada capítulo dará conta de um modo convencional da partilha dos tempos em São Martinho, a saber: as vilas; o trabalho; as terras e os parentes; a comunidade; a direçãoburocrático-religiosa e; a disputa política. Cada uma dessas partilhas produzia por vezes efeitos semelhantes, como: o cotidiano, a comunidade e a direção. Na Introdução e nas Considerações Finais argumento ainda que é pela oferta e partilha do primeiro desses efeitos, o cotidiano, que se fez possível uma etnografia de uma realidade como aquela vivida e narrada em São Martinho.