Defesa de Doutorado de Igor Vinicius Basilio Nunes
Enviado por secr_pos_filosofia em qua, 15/08/2018 - 10:56Este trabalho reestrutura os principais conceitos políticos e morais do pensamento de Hannah Arendt ao aproximá-los argumentativamente da filosofia existencial de Karl Jaspers. A tese se divide em dois eixos que formam a sua centralidade problemática. No primeiro eixo, defendo que a formação política de Arendt, a partir dos anos de 1930, bem como a consequente criação de seus próprios termos teóricos e filosóficos na década de 1950, entram em comunicação privilegiada com as reflexões jasperianas para a definição do que representaria, para a autora, por exemplo, a existência política dos homens no mundo. Nesse contexto, destaco e desenvolvo os significados das experiências humanas e mundanas da pluralidade, da natalidade, da liberdade e as disposições afetivas envolvidas e caracterizantes do emblema político arendtiano do amor mundi. No segundo eixo, defendo que os conceitos morais utilizados por Arendt a partir de 1960, desde o julgamento e a punição do burocrata nazista Adolf Eichmann, podem ser iluminados por meio da figura pessoal de Jaspers. Assim, apresento Jaspers como um modelo exemplar nos textos arendtianos, sobretudo nos escritos em que a figura pessoal e a filosofia jasperianas aparecem vinculadas às categorias do pensamento subversivo e da mentalidade alargada, tais como são definidas por Arendt com recorrência a Sócrates e a Kant, respectivamente. Durante as discussões presentes nos dois eixos, faço interligações entre o âmbito da ética e o da política na teoria arendtiana, além de debater os motivos pelos quais Jaspers é um legítimo kantiano para ela. Dessa maneira, a hipótese cardeal elaborada e disposta nesta tese de doutorado é a de que, tendo em conta a comprovação do diálogo contínuo entre as filosofias de Jaspers e de Arendt – isso somado à constatação da escassa produção bibliográfica de fontes secundárias sobre esse tema –, seria possível demarcar novas perspectivas de interpretação e novos contornos de sentidos e significados às preocupações políticas e morais arendtianas. De modo geral, portanto, proponho explicar de quais maneiras e em quais medidas a teoria existencial de Jaspers preparou Arendt para os temas políticos e a provocou para imaginar exemplos éticos, sem, no entanto, fazer dela uma simples discípula dele. De modo mais específico, num primeiro momento, o trabalho rastreia a gênese da preocupação com a pluralidade humana nas obras de Arendt e, ao discutir sobre isso, revela uma semelhante noção de humanidade nas teorias de ambos os autores. Essa concepção peculiar de humanidade, por sua vez, orienta o trabalho até a tese sobre o conceito de amor em Agostinho, de Arendt, e se finca como um elemento central para interpretar esse escrito de 1929. Uma vez inserido nos temas da tese de doutorado de Arendt, sustento em sequência que as filosofias de Jaspers e de Arendt são teorias sobre o tempo presente, tempo no qual se atualizam a natalidade e a liberdade humanas, seja esta última interpretada quer pelo espectro político quer pelo espectro existencial. Num segundo momento, argumento que existe um circuito de afetos vinculado a essas filosofias que lidam com o tempo presente, com o agora, e, não obstante, discuto e repenso o termo amor mundi pela via das disposições afetivas retiradas das obras de Arendt. Por fim, num terceiro momento, o trabalho estabelece uma conexão entre as reflexões morais e políticas arendtianas: que seria o método do pensamento vicário, ou seja, o modo de pensar sobre as experiências mundanas fazendo as vezes de um “quem”, de um alguém, visitando perspectivas alheias e diversas.