Defesa de Mestrado de Marcelo Hanser Saraiva
Enviado por secr_pos_filosofia em qua, 15/08/2018 - 10:44Partimos do diagnóstico histórico-cultural da modernidade realizado por Michel Foucault (1926-1984) conforme sua leitura da obra de Immanuel Kant (1724-1804), concentrando-nos no período inicial de recepção do filósofo alemão pelo francês, a saber, aquele que se costuma denominar “arqueológico”, tendo por textos-chave a Introdução à Antropologia de Kant (2008[1961]) e As Palavras e as Coisas (1966). Num primeiro momento, o objetivo é compreender a emergência, em Kant, do paradigma moderno de pensamento da finitude humana, por força do qual esta passa a ser concebida a partir de si mesma, isto é, sem a tutela de uma instância transcendente; correlativamente, busca-se compreender a emergência da figura do “duplo empírico-transcendental” (do homem pensado simultaneamente como sujeito e objeto) e das confusões e aporias derivadas desse novo estatuto do ser humano. Em observância a esse objetivo geral, perscrutamos a obra de Kant meticulosamente (e de maneira relativamente independente da leitura estrita de Foucault), apresentando a diferença e a articulação entre a instância transcendental (fundamental) da razão humana e a empírico-antropológica (temporal) da existência humana – no que a dimensão factícia própria à antropologia aparece então como o espaço aberto de um fazer, o campo de força cujos polos são objetivação e subjetivação, verdade e liberdade. Num segundo momento, buscamos compreender, nas obras citadas e no conjunto do projeto “arqueológico” de Foucault, qual é a alternativa do filósofo francês às aporias da razão antropológica, o que implica compreender a presença decisiva de Friedrich Nietzsche (1844-1900) em sua estratégia filosófica. Através de certa “repetição” e radicalização do gesto crítico kantiano, Nietzsche pôde enfim liberar o espaço para um pensamento da finitude humana emancipado não apenas do reducionismo empirista, como também da própria forma de um sujeito transcendental (sem que isso implicasse um retorno a uma metafísica pré-kantiana).