Defesa de Mestrado de Alexandre Augusto Garcia Starnino
Enviado por secr_pos_filosofia em qua, 15/08/2018 - 10:36Este trabalho em sentido amplo examina e articula a concepção de identidade e identificação estabelecidas por Jacques Lacan, bem como suas implicações. Nossa referência teórica principal é o Seminário IX - A Identificação. A partir desse seminário, circunscrevemos nossa problemática fundamentalmente em dois eixos centrais: (1) A via sustentada por Lacan como uma perspectiva avessa ao próprio conceito tradicional de identidade, correlativo a concepções de idêntico a si (A =A), idem, si mesmo. (2) Lacan vai apontar o Outro como via de regra na consumação do que se entende por identidade, apontando a ordem do discurso, linguagem – operações e produtividade significante – como referenciais implicados no que tradicionalmente se concebe como sujeito, identidade, subjetividade. “A Identificação é com o significante”, nos diz Lacan, e é ela – a identificação – que “se cristaliza numa identidade”. Por esses fatores, insistimos na delimitação do campo do Outro; dos registros do enunciado e enunciação; bem como a diferença entre signo, significante e objeto a. Por razões estritamente metodológicas, dividimos o texto em duas partes: Na primeira parte apresentamos os pressupostos de uma possível concepção de identidade e identificação em Lacan, forjando o termo operação de enodamento, que, por sua vez, se consuma na relação con-stitutiva entre as noções lacanianas de (1) sujeito descentrado e cindido, (2) significante e (3) afetividade. O desígnio principal desta primeira parte foi articular sistematicamente os tais elementos estruturais que compõem o discurso identitário, com vistas a fundamentar o que denominamos operação de enodamento. Na segunda parte da dissertação nossa reflexão abrigou-se na formação e constituição das identidades coletivas em seu nível mais elementar e estrutural. Visamos apontar as operações de enodamento que se estabelecem nas identidades ditas coletivas numa espécie de retomada do que abordamos na primeira parte. As noções laclaunianas como cadeia de equivalência, significante vazio, investimento radical, demanda, nomeação, entre outros – conceitos com intima implicação da matriz freudolacaniana – formaram o núcleo teórico fundamental para compreensão da formação das identidades coletivas. Os casos específicos aqui discutidos e as formalizações apresentadas, tanto na primeira quanto na segunda parte, nos deram a base para solidificar a teoria apresentada. A interlocução com autores contemporâneos circunscritos ao campo freudolacaniano, muito nos favoreceu em nossa alçada em termos metodológicos. Como conclusão da dissertação, estabelecemos quatro proposições ampliadas acerca do processo identitário em termos de contingência e necessidade que a seguir sintetizamos: (1) o significante a ser sustentado como identificação é contingente, mas (2) os princípios que determinam a inscrição do significante são necessários; (3) não há sujeito sem a necessária operação significante; (4) há necessariamente circuitos afetivos, também contingentes, que se afirmam e se reconfiguram no enodamento da cadeia discursiva – numa verdadeira dialética de compromisso mútuo – em modos de alienação e separação.