FESTAS PARA BOLÍVAR? ENTRE PROJETOS E SENTIDOS NAS COMEMORAÇÕES DEDICADAS AO LIBERTADOR EM CARACAS (1827, 1842, 1883)
Enviado por secr_pos_mhistoria em sex, 16/02/2018 - 14:39A tradição política venezuelana no século XIX esteve intimamente vinculada aos usos da imagem de Simon Bolívar numa gama de manifestações sociais. As elites governantes do país, envolvidas no exercício de “fundar a nação”, frequentemente recorreram ao Libertador como uma origem a ser celebrada, uma memória que ofertasse unidade na recordação e um suporte para seus projetos de porvir. De tanto se retomar a jornada libertadora em solenidades e efemérides, paulatinamente se consolidou um calendário de homenagens ao herói. Mais que comemorar sua narrativa de fato, as cerimônias foram arranjos polissêmicos constantemente remodelados ao sabor das demandas políticas conjunturais. Diante das barreiras de uma sociedade iletrada e acostumada ao cotidiano de guerras civis, esses rituais foram capazes de desempenhar uma comunicação social cativante, ampla e pacífica. Interessado em compreender os papeis mediativos dessa retórica/ritualística bolivariana, proponho investigar os sentidos do jogo simbólico desenvolvido nas principais festas bolivarianas da Caracas oitocentista: a Entrada triunfal de Bolívar (1827), as Honras fúnebres do Libertador (1842) e o Centenário de Bolívar (1883). Mediante a contribuição de leituras da história do discurso político (Elias Palti, John Pocock) e antropologia ritual (Edmund Leach, Victor Turner e Stanley Tambiah), desenvolvo um olhar contextualista para as crônicas do ritual bolivariano, preocupado com os modos com que a linguagem política e o sistema simbólico do bolivarianismo foram empregados para apresentar resoluções para os dramas sociais de turno. Nesse âmbito, busco enfatizar o caráter mediativo do Culto a Bolívar, em oposição a intepretações correntes que o situam como um fenômeno de dominação socio-política.