Comentar

Essa tese pretende defender como os discursos atuais sobre o islã dialogam e se aproximam de representações cristãs produzidas pela imprensa religiosa nos Estados Unidos da América durante a Revolução Iraniana (1978-1981). Para isso, analisamos os textos publicados no periódico The Christian Century, editado por cristãos mainline, e na revista Christianity Today, editada pelo grupo de Billy Graham, entre 1978 e 1981. Na leitura das fontes, buscamos compreender como a Revolução Iraniana impactou a relação entre Estados Unidos e Irã, e como essa revolução impactou, de modo especial, a maneira como os estadunidenses percebiam e se relacionavam com o islã. Utilizando como aportes teóricos as contribuições de Carlos Ginzburg (mediação cultural), Stewart M. Hoover (imprensa e religião) e Edward W. Said (orientalismo), analisamos de que maneira uma nação majoritariamente cristã conseguiu interpretar uma revolução política com uma apropriação particular do islã, e de que maneira essa interpretação se relaciona com os atuais discursos sobre os muçulmanos e sua religião, aqui representados pelos trabalhos de Bernard Lewis e Samuel Huntington. Indicamos ao longo dos capítulos que as representações do islã como “fundamentalista”, violento, bélico, anacrônico e antiocidental já existiam antes do 11 de Setembro; se referem às questões da Guerra Fria (em especial aos movimentos revolucionários no Irã); e são produzidos em relação a um conceito universal de religião, elaborado a partir do cristianismo protestante americano.