POLÍTICAS DE LÍNGUA E MOVIMENTOS NACIONALISTAS: CAMPOS DE INTERAÇÃO HISTÓRICA ENTRE TANZÂNIA E MOÇAMBIQUE (1961 – 1969)
Enviado por secr_pos_mhistoria em ter, 30/01/2018 - 09:55Diferentes organizações políticas de refugiados moçambicanos na África Oriental se uniram em 1962 sob a liderança de Eduardo Mondlane para formar a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) no Tanganyika, atual Tanzânia, dando início dois anos mais tarde à guerra de libertação nacional. A problemática desta pesquisa questiona um lugar-comum na historiografia referente aos primórdios da luta de libertação de Moçambique: houve unanimidade sobre a escolha da língua portuguesa como língua oficial da FRELIMO? Dado que a língua portuguesa não era difundida entre os membros que a fundaram em Dar es Salaam (GANHÃO, 1979), nem tampouco entre a maioria dos emigrados moçambicanos politicamente mobilizados no Tanganyika (MONDLANE, 1963), busca-se avaliar historicamente como se deu a decisão de promover a língua portuguesa como elemento de integração sociopolítica do movimento e da construção da nação moçambicana. Para tanto, são abertos três eixos analíticos principais dedicados ao estudo de campos de interação histórica em que são formuladas políticas de língua (FABIAN, 1986). O primeiro é dedicado à definição da problemática “questão linguística”, isto é, a percepção historicamente constituída acerca dos problemas decorrentes do estabelecimento de entidades políticas (de caráter colonial ou não) sobre populações multilíngues. O segundo trata de reconstruir, por meio do levantamento do contexto histórico tanzaniano e do fenômeno do assimilacionismo português, a situação linguística (TUMBO, 1976) e colonial presentes no processo no qual se insere a formação dos nacionalismos moçambicanos, incluindo uma análise da mobilização multilíngue realizada nos comitês de base da FRELIMO no interior do Tanganyika. O terceiro condensa a averiguação de projetos educacionais empreendidos pela FRELIMO para a promoção da língua portuguesa durante a década de 1960, principalmente o Instituto Moçambicano em Dar es Salaam, e seu fechamento em decorrência de conflitos ocorridos no seio do movimento de libertação, nos quais se reivindicou o ensino em língua inglesa (VIEIRA, 2010). Os objetivos propostos articulam-se no sentido de compreender como os diferentes grupos que compuseram a FRELIMO concorreram e participaram no processo histórico no qual ocorreu a escolha da língua portuguesa. O contributo historiográfico almejado por este trabalho consiste na análise da formação de diferentes situações linguísticas como elemento necessário para entendimentos mais plurais e pormenorizados sobre fenômenos históricos pertinentes à descolonização do continente africano. Esta pesquisa busca afirmar, por fim, que negar ou ignorar a diversidade linguística inerente aos contextos em que se formaram frentes nacionalistas que se propuseram unificadas expõe análises históricas ao risco de produzir simplificações ou equívocos interpretativos.