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Compreender como se constituíram as relações coloniais estabelecidas entre portugueses, moradores e Sobas no distrito de Golungo Alto, Angola, observado a partir de narrativas coloniais de origem militar é o objetivo central deste trabalho, que debate a capacidade de tais relações colaborarem para a interiorização portuguesa no entremeio do século XIX e reconfigurar o poder político africano. A investigação teve como fonte privilegiada textos de pequenos agentes coloniais de carreira militar que circularam pelo interior de Angola entre as décadas de 1840 e 1860. O período no qual esta obra se debruça foi de fortes discursos de mudanças políticas e econômicas da atuação portuguesa em Angola, inseridos em um debate mais amplo acerca das possibilidades de ocupação efetiva deste território africano. Dito de outra forma, a paulatina bancarrota do tráfico de escravizados legal exigia uma ação portuguesa de maior inserção no território africano, o que levou ao incentivo da atividade agrícola e extrativa para fins comerciais de exportação, abrindo caminho para novas possibilidades comerciais aos moradores e novos processos de interação entre portugueses e comunidades africanas tradicionalmente mediadas pelos Sobas. O material empírico aqui analisado atesta esta tendência e permite verificar a inconstância das ações coloniais portuguesas ao longo do século XIX e a participação de mestiços e africanos, seja em reação as novas exigências externas trazidas pela administração colonial ou ainda em suas próprias iniciativas visando o melhor prover na empresa comercial. A maioria das narrativas criticamente analisadas dizem respeito a visitas, vistorias e campanhas militares realizadas nos sertões de Luanda por funcionários coloniais pertencentes ao corpo militar. Portanto, os interesses narrativos e a percepção das dinâmicas coloniais em tal documentação estão marcados pelo crivo dos interesses portugueses. Conquanto, mesmo em uma documentação assinalada pelos interesses coloniais foi possível perceber a agência africana, especialmente no que diz respeito à ação comercial, que permitiu a moradores e Sobas da região do Golungo Alto o protagonismo em diversos momentos, desde o monopólio sobre a mão de obra africana, passando pela resistência ao serviço de carreto até as tentativas de controle da circulação de mercadorias.