Vida de filho de criação na Zona da Mata de Minas Gerais
Enviado por secr_pos_csociais em qui, 16/11/2017 - 10:37Este trabalho procura acessar e compreender as formas morais e costumeiras por meio das quais os habitantes da Zona da Mata de Minas Gerais reconhecem os filhos de criação e estabelecem o imaginário dos princípios e regras que lhes define o perfil da própria identidade e a gramática dos relacionamentos. Filho de criação é a categoria nativa utilizada para se referir a pessoas que foram dadas, ainda bebês ou durante a infância, pela família consanguínea para outra família criar. O desempenho de algumas funções para a família de criação e a divisão sexual destas funções estruturam a prática de pegar para criar. A família de criação apresenta a criança acolhida como filho de criação, como se fosse da família, suprimindo qualquer diferença com relação aos filhos consanguíneos. Contudo, apenas os filhos consanguíneos têm direito ao estudo de modo sistemático, têm tempo livre para brincadeiras, passeiam, viajam, namoram, trabalham fora de casa, se casam etc. A vida de filho de criação é dedicada desde a mais tenra idade ao cuidado da casa e dos pais. A articulação da pesquisa etnográfica e de narrativas biográficas revelou o cuidado dos pais até a morte como uma espécie de missão que o filho de criação deve cumprir em retribuição à “dádiva da vida” que o acolhimento representa para ser reconhecido socialmente e, no limite, merecer a graça divina da salvação.