Trajetórias residenciais em Lucas do Rio Verde (MT): entre a produção vertical do campo e a ocupação horizontal da cidade
Enviado por secr_pos_demografia em sex, 19/05/2017 - 10:40A partir da década de 1970, os setores produtivos no Brasil passaram por uma intensa reorganização. Para a produção no campo, este processo abrangeu desde a incorporação capitalista de novas terras dos anos 1980, passando pelo processo de reestruturação produtiva. Isto também suscitou a reestruturação do espaço rural e do espaço urbano. O município de Lucas do Rio Verde (MT) insere-se nesta dinâmica como grande produtor de commodities, por um lado, e com intensa dinâmica populacional e espacial no urbano, por outro lado. O intenso fluxo imigratório e a intensa transformação intraurbana marcaram a breve história do município de pouco mais de trinta anos. A pergunta central que esta tese fez é sobre como se deu a distribuição dos imigrantes internamente à cidade. Diferentes condições migratórias poderiam significar acessos diferenciados aos lugares de moradia? Esta tese buscou analisar a mobilidade residencial intraurbana de Lucas do Rio Verde, com o objetivo de compreender os processos sociodemográficos associados ao agronegócio e seus reflexos na distribuição espacial dos indivíduos no espaço intraurbano. A metodologia deste trabalho foi composta pela análise teórica conjugada com dados quantitativos secundários para reconstrução da história sociodemográfica do município e por uma coleta de dados primários para caracterizar as trajetórias residenciais intraurbanas dos múltiplos fluxos migratórios que constituíram a população da cidade. Os resultados indicaram que a intensa expansão urbana não se relacionava meramente à chegada de imigrantes, mas também se articulava ao acesso à moradia. De modo geral, os bairros preferidos pelos imigrantes para a primeira morada foram aqueles com localização central. Porém, a manutenção de residência nesses bairros também dependeu das condições de vida de cada imigrante. Isto se refere aos imigrantes do Nordeste e Norte que chegaram ao município em piores condições. Em média, eles mudaram mais vezes de moradia. Vivia-se, assim, uma insegurança sobre sua moradia, caracterizando uma condição de permanentemente improvisado. Contraditoriamente, o improvisado pode ter se tornado a forma de moradia de toda uma vida.