Esta pesquisa procurou estudar as dinâmicas do comércio sertanejo no interior de Angola em meados do século XIX. Reunidos no Planalto Central angolano, região fora da jurisdição colonial portuguesa da época, os comerciantes sertanejos foram importantes agentes do comércio no interior do continente, sendo protagonistas da expansão da exportação de gêneros como a cera e o marfim, após a proibição legal do tráfico atlântico de escravos nas colônias portuguesas, em 1836. A partir dos relatos diários do comerciante António Francisco Ferreira da Silva Porto, escritos entre as décadas de 1840 e 1860, que descrevem e comentam o cotidiano das caravanas comerciais na África Central, investiguei as relações sociais que permeavam a realização dessa modalidade comercial. Tais relações consistiam em, desde a contratação e negociação constante com os centro-africanos que compunham a sociedade caravaneira e acompanhavam o sertanejo por meses de caminhada, até a diplomacia e participação ativa de autoridades africanas no comércio no interior do continente. Ao acompanhar o cotidiano registrado nas páginas de Silva Porto, torna-se possível uma compreensão mais ampla dos processos de formação, consolidação e transformação do chamado comércio lícito na região, considerando no centro da análise o impacto das decisões e conflitos desses agentes históricos em um contexto de profunda transformação política e social do interior da África Central.
Transmissão ao vivo: https://youtu.be/vkm3B0Ua6Ss