COMEMORAÇÕES, CIDADANIA E FESTAS: O ASSOCIATIVISMO NEGRO EM PIRACICABA E CAMPINAS NAS TRÊS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

Esta tese analisa a história de organizações dirigidas por grupos de negros, identificados como homens de cor, nas cidades de Campinas e Piracicaba nas três primeiras décadas do século XX, e suas ações em prol da cidadania das populações negras. Nos anos seguintes à Abolição, vários artigos publicados em jornais das duas cidades do Oeste Paulista reclamavam da ausência de celebrações locais à lei que pôs fim ao sistema escravista, enquanto no resto do país a data era marcada por grandes festejos. Havia grupos de homens de cor que saíam às ruas dando vivas, mas os articulistas desejavam ritos cívicos, solenidades que consideravam ser características das grandes comemorações. Em Piracicaba, um grupo de negros resolveu criar uma sociedade com o objetivo de não deixar a data cair no esquecimento, promovendo cortejos cívicos, e, apesar da festa ser sua única meta durante anos, atendeu a outros aspectos da vida cotidiana. Em Campinas, houve mais entidades e por isso o associativismo negro teve diversas finalidades: houve associações de ajuda mútua, recreativa, dramática, dançante, esportiva, instrutiva. Celebrar o 13 de maio também foi importante. Os homens de cor das duas cidades buscaram conquistar o respeito dos setores dirigentes, em um momento de forte estigmatização e inferiorização das populações negras. Havia muitos argumentos em favor de uma cidadania parcial: os negros não poderiam gozar de todos os direitos porque precisavam aprender a viver em uma sociedade pautada pelo trabalho livre; confundiam liberdade com ociosidade; eram levados por seus vícios para a criminalidade e prostituição. Por isso mesmo, as populações negras precisavam ser vigiadas. Os homens de cor criaram códigos de conduta para se mostrarem diferentes dessa imagem e para se apresentarem como aptos a viver sob o novo regime republicano, na condição de homens livres. Em certa medida, tiveram sucesso: foram vistos respeitosamente, suas festas foram consideradas atos de patriotismo e ganharam espaços nos jornais locais. No entanto, os elogios não se estenderam ao restante da população negra. Eles eram dignos, exatamente porque não se pareciam com “outros negros”. Apesar de aceitarem e destacarem essa distinção, os homens de cor lutaram em prol da elevação moral dos negros como um todo. A pesquisa utilizou artigos publicados em jornais da Imprensa Negra, atas de associações e documentos dos governos municipais, para abordar diferentes aspectos da atuação das associações dos homens de cor em Campinas e Piracicaba, propondo que as festas, comemorações, homenagens e atividades recreativas que organizaram fizeram parte de uma luta antirracista que, no início do século, buscou conquistar direitos de cidadania para as populações negras destas duas cidades.

Data da defesa: 
sexta-feira, 6 Março, 2020 - 17:00
Membros da Banca: 
Silvia Hunold Lara (Presidente) - UNICAMP
Lucilene Reginaldo - UNICAMP
Mario Augusto Medeiros da Silva - UNICAMP
Petrônio José Domingues - UFS
Fernanda Oliveira da Silva - UFRS
Programa: 
Nome do Aluno: 
Willian Robson Soares Lucindo
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas - Unicamp