Cognição e Ceticismo: A Autoafirmação do Cognoscente e os Cinco Modos de Agripa

O problema sobre o qual esta tese se debruça é um desafio cético sério que induz a suspensão do juízo acerca de qualquer tese ou proposição sobre a real natureza das coisas. Trata-se de um dos principais estratagemas do ceticismo pirrônico, que são os Cinco Modos de Agripa, ou Problema de Agripa. Se alguma tese ou proposição é colocada sob o desafio dos cinco modos, seria inevitável a suspensão do juízo e, portanto, do ceticismo. Diversas são as interpretações sobre tal problemática pirrônica. Aqui, no entanto, é tomada como objeto de estudo a interpretação defendida por Markus Lammenranta, chamada de dialética, a partir de um texto seu de 2008. Por seu turno, o objetivo desta tese é oferecer uma resposta a essa interpretação em específico, de modo a evitar a suspensão do juízo e o subsequente ceticismo a que ela induziria. Para isso, valemo-nos de elementos das teorias cognitiva e epistemológica do filósofo canadense Bernard Lonergan. E, em particular, colocamos o argumento da auto-afirmação do cognoscente e seus desdobramentos como principal resposta à problemática. Tal argumento está presente no centro de sua magnum opus, o Insight: a study of human understanding (1992). Nossa estratégia consiste em responder ao ceticismo dos Cinco Modos de Agripa de modo direto e indireto. De modo direto, a partir de dentro, entramos no estratagema dos cinco modos e verificamos se a auto-afirmação do cognoscente oferece uma resposta satisfatória, ou seja, que não caia em ceticismo. De modo indireto, a partir de fora, analisamos e respondemos a dois pilares que dão sustentação à interpretação dialética de Lammenranta. Esses dois pilares são: 1) a moral de que não se deve cair em petição de princípio; e 2) a questão sobre dois tipos distintos de assentimento (juízo) por parte do cético.