No céu como na terra: a possível influência de João Filopono de Alexandria sobre Tomás de Aquino na discussão do ‘De Caelo’ I, 3

Proponho discutir um possível caso de influência filosófica de João Filopono de Alexandria sobre Tomás de Aquino, no comentário in De caelo et mundo I, lição 6. O Filopono foi um filósofo neoplatônico do século VI e autor de vários tratados e comentários. Seu De aeternitate mundi contra Aristotelem representa um marco em sua filosofia, uma vez que o livro contém uma rejeição clara e decisiva da existência do éter, o elemento natural do sistema aristotélico responsável por explicar a composição e o movimento dos corpos celestes.

Alguns estudiosos especulam que esse livro do Filopono poderia ter influenciado outros filósofos, quer levando-os a rejeitar o quinto elemento, quer dando-lhes razões para questionar, corrigir ou repensar a noção aristotélica. A evidência dessa influência seriam as referências diretas a ele, como ocorre em In De caelo et mundo, livro I, lição 6, de Tomás de Aquino.

A esse respeito, defendo que Tomás de Aquino, embora familiarizado com as objeções de João Filopono à existência do éter, sabia deles apenas indiretamente — por meio do comentário de Simplício ao De caelo, em uma tradução latina feita por Guilherme de Moerbeke. Além disso, Tomás de Aquino não corroborou essas objeções. Em vez disso, ele apoiou as premissas e conclusões de Aristóteles sobre os corpos celestes. No entanto, penso que é possível afirmar que Tomás de Aquino concordou com o Filopono em alguns pontos: o universo teve um início no tempo, os corpos celestes são compostos hilemórficos, e a observação sozinha não basta para demonstrar a incorruptibilidade deles.

Também, penso que é plausível que, no seu contexto, Tomás de Aquino tenha usado o Filopono para representar aqueles que se opunham à “opinio Aristotelis”, evitando dirigir-se a eles diretamente. Professores de teologia e muitos estudantes, tal como o Filopono, usaram a autoridade filosófica de Platão para refutar Aristóteles. Fomentaram diversas polêmicas na Universidade de Paris, opondo-se à física aristotélica e rejeitando veementemente a ideia de um mundo eterno. É possível que Tomás de Aquino tivesse respondido a eles, fazendo o comentário das objeções filoponianas. Por fim, entendo que, ao discutir essas objeções, Tomás de Aquino contribuiu para incorporá-las à discussão escolástica sobre os corpos celestes, definindo alguns dos principais argumentos e ideias de João Filopono de Alexandria para a posteridade.

Data da defesa: 
segunda-feira, 15 Abril, 2024 - 14:00
Membros da Banca: 
Presidente Profa. Dra. Fátima Regina Rodrigues Évora IFCH/ UNICAMP
Membros Titulares Prof. Dr. Marcio Augusto Damin Custodio IFCH/ UNICAMP
Prof. Dr. Evaniel Brás dos Santos Universidade Federal de Sergipe
Prof. Dr. José Antonio Martins Universidade Estadual de Maringá
Profa. Dra. Veronica Ferreira Bahr Calazans Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Prof. Dr. Alex Calazans Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Curitiba
Prof. Dr. José Portugal dos Santos Ramos Pesquisador
Profa. Dra. Monique Hulshof IFCH/ UNICAMP
Programa: 
Nome do Aluno: 
Matheus Henrique Gomes Monteiro
Sala da defesa: 
Sala de Defesas de Teses I