Ao longo do século XVI, a Escócia contou com dois momentos em que as perseguições de bruxaria em determinada localidade atingiram proporções geograficamente e numericamente mais extensas. Os episódios ocorreram em 1590-1 e em 1597. Enquanto o primeiro foi amplamente estudado pela historiografia, considerando a particularidade do envolvimento pessoal do rei escocês, James VI, 1597 não recebeu a devida atenção. Neste ano, cerca de 34 mulheres foram acusadas a partir dos processos que sobreviveram os 422 anos que separam esta pesquisa dos eventos narrados. Mas, foi lá, em Aberdeen, que (principalmente) mulheres teriam praticado rituais que envolviam práticas ortodoxas e inversivas, teriam rogado pragas nos seus vizinhos na rua e teriam enfeitiçado familiares das autoridades locais de Aberdeen.
Paralelamente, os estudos da bruxaria receberam olhares variados nos últimos dois séculos. Passou-se de trabalhos que pensavam o sabá como um ritual pagão de adoração a entidades da natureza para perspectivas sociais, econômicas, políticas, de gênero e linguísticas. Apesar de amplo, todavia, estes estudos não são frequentemente postos em comparação. Somente um objeto de estudo mais microscópico permitiria a combinação de metodologias, considerando a complexidade de cada uma delas.
Porque o corpo documental para Aberdeen em 1597 é extremamente rico e o recorte temporal e geográfico é restrito, propõe-se uma análise deste episódio a partir da combinação de algumas metodologias distintas. A proposta é um estudo tríplice, que leva em consideração elementos da linguagem característica da primeira modernidade, aspectos sociais do cotidiano dos residentes de Aberdeen e políticos, no âmbito das relações entre as autoridades locais e entre estas e o poder central. Com isto, espera-se obter uma compreensão mais rica de um único episódio e conclusões novas sobre a bruxaria da primeira modernidade ao se comparar diversas formas de se olhar para o fenômeno.