Arte Pop Global, ou como Reescrever / Reinscrever o Cânone: Um Estudo de Caso a partir das Exposições International Pop e The World Goes Pop

As exposições International Pop (Walker Art Center, Minneapolis, 2015-2016) e The World Goes Pop (Tate Modern, Londres, 2015-2016) reabriram a discussão sobre a arte pop e a apresentaram enquanto um fenômeno global. Essas mostras, nas quais estiveram presentes ao todo em torno de 300 obras de artistas de mais de 30 países, como Brasil e Argentina, buscaram introduzir ao público a produção de artistas até então não incluídos no cânone da pop e propor diálogos com ele a partir de uma experiência comum identificada com o “retorno” à figuração, sobretudo na pintura, a apropriação de imagens através do readymade visual, de técnicas e materiais dos meios de comunicação de massa e também de objetos da vida cotidiana. Esta tese de doutorado analisa criticamente essas exposições como núcleos irradiadores de questões teóricas, históricas e críticas relativas à produção artística de brasileiros e argentinos de meados dos anos 1960 ao início dos anos 1970 que tem sido lida na chave da pop, principalmente àqueles trabalhos participantes das mostras. O viés dessas mostras esteve pautado no que tem se convencionado chamar de estudos de arte global, que teriam como seus principais objetivos a problematização e o deslocamento do cânone artístico ocidental. Assim, observamos que a noção de global tem sido evocada por várias instituições, principalmente museus europeus e norte-americanos, como ideia estruturante de exposições que têm buscado inserir produções artísticas do Sul Global em uma história da arte dita global, mas que mantém a genealogia euroanglocêntrica. Portanto, examinamos essa “retórica do global” como provável renovadora das dinâmicas de hegemonia artística. Portanto, esta tese analisa a complexas tramas discursivas de International Pop e de The World Goes Pop como operação de reescrita e reinscrição do cânone da arte pop enquanto um cânone expandido. Propõe-se investigar esses eventos como espaços de circulação e de fabricação de discursos sobre a arte, isto é, como dispositivos de mediação, que a partir das histórias das exposições pode ser compreendida como ocasião do contato entre a produção artística e o público. A partir disso, são abordadas as configurações espaciais nas quais esse contato se dá tendo em conta o discurso curatorial que o programa. Ambas as mostras de arte pop global intentaram considerar as especificidades locais de cada um dos trabalhos selecionados por seus curadores, mas em alguns momentos percebemos uma distância entre aquilo que elas queriam ser (tese curatorial) e aquilo que elas foram (experiência estética).