Arquivando a pandemia: transformação digital e luta pela memória na América Latina

Como foram arquivados registros da pandemia de COVID-19 na América Latina? Esse é o questionamento básico que orienta este trabalho. Observando os efeitos da transformação digital, a tese aborda os agentes, as estratégias, a documentação e, enfim, a experiência dos projetos criados especificamente para arquivar aspectos da vida durante a pandemia na região. Trata-se de uma pluralidade de iniciativas criadas por agentes que atuaram com variados graus de formalidade, compondo projetos que transitam entre a criatividade e a precariedade. Universidades, arquivos públicos, ativistas, páginas de redes sociais, anônimos, acadêmicos e voluntários estão entre os atores que adotaram estratégias diversas para coletar, organizar e prover acesso a registros sobre a vida durante a catástrofe da pandemia na América Latina. Tais projetos são observados por um olhar historiográfico, isto é, são objeto de uma reflexão sobre a constituição da história enquanto área do conhecimento a partir das operações que realizam nos campos do arquivo e da memória. Assim, procura-se entrelaçar uma história do arquivamento da pandemia com uma reflexão sobre como a experiência de tais projetos mobiliza, tensiona e cria interações entre noções fundamentais ao campo historiográfico, como arquivo, memória, história, testemunho, evidência, passado, presente, futuro, justiça, dentre outras. Inicialmente, reflete-se sobre as formas de coleta de registros por tais projetos em perspectiva à adoção de técnicas de composição e análise de base de dados para estudos históricos no meio digital. Em seguida, debruça-se sobre a experiência de arquivamento via redes sociais, destacando os contornos dos projetos que se utilizaram do Instagram e os desdobramentos das suas experiências para a construção de arquivos e histórias no meio digital. A terceira parte da tese aborda o caráter sensível dos projetos e dos registros da pandemia. Expressando traumas e feridas históricas coerentes com a catástrofe vivida, tais arquivos possibilitam uma rica imersão sobre a operacionalização de tempos históricos e a mobilização de sensibilidades em direção à reconstrução e ao fortalecimento comunitário. Do início ao fim, a tese reflete sobre o caráter global, a desigualdade e o caráter trágico expresso na experiência de arquivamento da COVID-19. Isso tudo imprime um tensionamento constante das noções de história e arquivo em perspectiva a uma prática ética no que concerne a eventos catastróficos, realçada em complexidade pela presença das tecnologias digitais. Como se argumenta, a própria experiência dos arquivos da pandemia é um caminho para encaminhar essa tensão, a partir da abertura a formas mais fluidas de mobilização do tempo histórico, da escuta da dor, do engajamento político e do agenciamento a partir as margens para a construção de arquivos calcados no cultivo do comum.

Data da defesa: 
segunda-feira, 13 Maio, 2024 - 09:00
Membros da Banca: 
Thiago Lima Nicodemo - Orientador (UNICAMP)
Josianne Frância Cerasoli (UNICAMP)
Anita Lucchesi (Universidade de Luxemburgo)
Miguel Soares Palmeira (USP)
Luciana Quillet Heymann (Fundação Oswaldo Cruz/RJ)
Programa: 
Nome do Aluno: 
Ian Kisil Marino
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses - IFCH/UNICAMP