Esta tese discute os recentes e crescentes interesses da gastronomia por produtos da sociobiodiversidade. Partindo de recortes que envolveram parcerias entre representantes da gastronomia brasileira e de comunidades tradicionais e indígenas que produzem ingredientes valorizados por esta área, são analisados problemas, eventos e práticas que contradizem a crença de que a gastronomia seja uma ferramenta de promoção e de proteção da sociobiodiversidade. Com o intuito de investigar questões relacionadas a essas parcerias e de compreender a construção desta crença, que é compartilhada por múltiplas instituições e agentes, abordo casos de desequilíbrios ecológicos causados pela expansão da gastronomia e da estética moderna, que a abrange. Indico como representantes de outras instituições modernas participaram historicamente da construção da confiança na gastronomia, a exemplo de cientistas e artistas. Debato como as ideias de cultura, evolução e desenvolvimento participaram da institucionalização da gastronomia, reverberando nas posturas e nos pontos de vista de seus representantes. Considerando o ideário moderno e a colonialidade como partes incontornáveis deste debate e observando os seus efeitos de longa duração nos julgamentos estéticos que não se limitam à mesa, comparo os atuais movimentos de representantes da gastronomia em direção aos territórios da sociobiodiversidade a empreitadas neocolonizadoras e neobandeirantistas. Recorrendo a uma revisão bibliográfica interdisciplinar, que extrapola a sociologia e passa por áreas como história, antropologia e ecologia, foram também consultadas publicações relacionadas à produção da gastronomia, sítios eletrônicos e materiais diversos, como revistas e jornais. Ao longo da construção da tese, são reforçadas as discussões e análises sobre a produção de desigualdades decorrentes da expansão controlada e restrita do universo da gastronomia. Assim, argumento que o potencial gastronômico atualmente imputado aos ingredientes nativos reduz agências, histórias e sentidos caros à organização das comunidades que os cultivam, algo que pode tornar as parcerias entre representantes da gastronomia e de comunidades tradicionais e indígenas locais insustentáveis. Diante da lacuna de estudos sobre a natureza e sobre questões ecológicas a partir da sociologia da cultura, reforço a importância do lançamento de olhares e de leituras socioecológicas e decoloniais para os estudos da alimentação e dos problemas relacionados às práticas socialmente legitimadas e aos gostos contemporâneos.
Para além do potencial gastronômico: uma análise socioecológica das relações entre a gastronomia e a sociobiodiversidade
Data da defesa:
sexta-feira, 13 Junho, 2025 - 14:00
Membros da Banca:
Prof. Dr. Michel Nicolau Netto (Presidente) (Orientador) - IFCH/ UNICAMP
Profa. Dra. Mariana Miggiolaro Chaguri - IFCH/ UNICAMP
Profa. Dra. Joana Cabral de Oliveira - IFCH/ UNICAMP
Profa. Dra. Myriam Elisa Melchior Pimentel - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Profa. Dra. Nurit Rachel Bensusan - Instituto Socioambiental
Programa:
Nome do Aluno:
Talitha Alessandra Ferreira
Sala da defesa:
Sala da Congregação