Afrikkan's wake: discursos para administração do caos em nome da ordem em territórios Sul-Africanos, 1894-1919

O monopólio da violência exercido pelo Colonialismo britânico e, posteriormente, pelo Estado sul-africano está muito além da violência física ou simbólica empregadas em sua construção. Ele aparece em quase todas as formas e estratos da sociedade sul-africana, simbolizando um tipo de Estado que não precisa de rosto ou uma única forma de policiamento para levar seus inimigos ao completo aniquilamento. Formado por leis burocráticas e estamentais, censura e um sistema tributário acachapante, os primeiros anos do século XX nos territórios sul-africanos assistiram à implantação de um sistema capitalista e, por seu turno, a necessidade da adaptação de costumes diversos, em contato e em conflitos já de longa data. Assistia-se a uma tentativa de conciliação entre os brancos de origem europeia, ao mesmo tempo em que os europeus se uniram para fomentar suas políticas de ódio e segregação. Para tanto, fazia-se necessário o controle sobre quase todos os aspectos da vida cotidiana, entre eles, as relações dos nativos com os feiticeiros e curandeiros espalhados pelas comunidades em todo o território sul-africano. Numa sociedade, portanto, em que a figura do deus cristão servia tão somente a uma ideia de sustentáculo de ordem, produzir arbitrariamente seu oposto tornara-se objetivo primeiro para garantir o pleno funcionamento de um sistema ordeiro e progressivo, tendo em vista uma ideia de civilidade e equilíbrio social. Essa pesquisa tem por objetivo observar como a violência tornou-se mecanismo decisivo para a repressão de inúmeras práticas cotidianas, sem qualquer justificativa moral ou religiosa, apenas pautada no pleno avanço de um capitalismo de caráter liberal no que será a África do Sul a partir de 1910. Nesse sentido, optei por observar os resquícios deixados pelos conflitos entre bôeres, ingleses, zulus e outros povos africanos na escrita do Relatório da Comissão Sul-Africana para Assuntos Nativos, entre os anos de 1903 e 1905, textos de lei, cartas de clemência, em que se justificam tentativas de alteração da legislação, bem como recortes de jornal e acusações de bruxaria e/ou feitiçaria nos territórios sul-africanos, entre os anos de 1894-1919, entendo-as como formas de manutenção da violência e, igualmente, como formas não de supressão das convulsões sociais, mas como garantias do caos. Construindo, assim, uma imposição de ordem, cujo Império Britânico se torna beneficiário único.

Data da defesa: 
quinta-feira, 25 Maio, 2023 - 14:00
Membros da Banca: 
Raquel Gryszczenko Alves Gomes - Orientadora (UNICAMP)
Omar Ribeiro Thomaz (UNICAMP)
Lúcia Helena Oliveira Silva (UNESP)
Leila Maria Gonçalves Leite Hernandez (USP)
Patrícia Teixeira Santos (UNIFESP)
Programa: 
Nome do Aluno: 
Marcos Paulo Amorim dos Santos
Sala da defesa: 
Sala de Defesa de Teses