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Produção Acadêmica

APRESENTAÇÃO DO DOSSIÊ DIANTE DOS NEGACIONISMOS - REVISTA CLIMACOM

Tipo: Produção Bibliográfica
| Ano: 2021

Resumo

Dos desmatamentos no Pantanal e na Amazônia, à gravidade da condução necropolítica da pandemia de coronavírus, não são poucos os acontecimentos cujas realidades estão sendo negadas no Brasil. Diante deles, torna-se preciso testemunhar suas existências. Mas… como testemunhar? De quais maneiras podemos nos colocar diante das posturas e práticas negacionistas que se alastram com intensidade pelo mundo hoje? Criado no âmbito da historiografia para se referir à negação do Holocausto ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, a utilização do termo negacionismo tem se ampliado tanto para se aludir ao revisionismo de outros crimes e horrores associados a eventos históricos (ao colonialismo e à escravidão, por exemplo) quanto para nomear estratégias e exercícios contemporâneos de poder que objetivam a negação de existências e realidades através das mais diversas práticas de destruição, desaparecimento, esquecimento, invisibilidade, silenciamento. Em relação à pandemia de coronavírus no Brasil, as práticas negacionistas buscam incitar a confusão, a hesitação, a dúvida e o medo em relação às ações de prevenção, às ciências e até mesmo em relação às milhares de mortes já ocorridas no país. Também no que diz respeito às mudanças climáticas, busca-se disseminar desconfiança em relação às ciências, convertendo a realidade do colapso ambiental e sanitário que vivenciamos numa questão de crença, que se intensifica com a crise de autoridade vivida pela Ciência. No caso das mudanças climáticas, o consenso científico sobre sua ocorrência não resultou numa maior conscientização em torno da gravidade da situação, evidenciando, mais uma vez, que a relação entre acesso à informação e mudança de comportamento e atitudes não está dada automaticamente, colocando em xeque a efetividade das modalidades atuais de comunicação. Como testemunhar? Nesse sentido, testemunhar não implica apenas aderir à denúncia ou à disseminação de informações relacionadas à pandemia. Tais gestos são também importantes, mas há a necessidade de se pesquisar e criar outros modos de existir dos testemunhos, abrir os testemunhos aos povoamentos mais que humanos, multiespécies, por exemplo. Outra dimensão importante diante da qual os negacionismos nos obrigam a pensar é a do horror indizível das milhares de mortes, a dificuldade de encontrar palavras que estejam à altura do acontecimento… Como testemunhar? Como tornar perceptível e sensível eventos extremos que desafiam a capacidade de compreensão e entendimento? Que colocam em xeque as percepções usuais e hábitos de pensamento? Realidades infinitamente grandes como as alterações climáticas ou infinitamente pequenas como a propagação de um vírus invisível a olho nu evidenciam os limites daquilo que é possível perceber, desafiando o que é tido como visível, dizível e mensurável, exigindo, por isso, novos modos de medir, de perceber, de ver, de dizer. Com este dossiê queremos tornar o negacionismo um campo problemático diante do qual torna-se imperativo criar modos de se testemunhar existências e realidades as mais diversas. Queremos dar atenção aos modos de testemunhar que exercitem uma efetiva atenção e cuidado. Nesse sentido, este dossiê deseja reunir produções que estejam dedicadas, de maneira afirmativa, à pesquisa com novos modos de conhecer, de pensar, de lembrar, de comunicar e informar, de contar, escrever, desenhar, pintar… Modos de expressão que estejam interessados em testemunhar existências como afirmação do direito à vida, que se encontra sob ameaça de tantas maneiras nesse momento que atravessamos.

Membros

Carolina Cantarino Rodrigues