Yoga Cristã: corpo e compatibilização

Criada pelo sacerdote jesuíta Haroldo J. Rahm, a yoga cristã é uma modalidade que intersecciona e traduz noções e movimentos da yoga de origem indiana – como os asanas (posturas físicas), os chakras (centros energéticos corporais), o prana (energia vital), samadhi (estado de consciência divina), etc – para uma prática psicorporal cristã, que neste caso específico tem forte apelo católico, e combina pensamentos e ideias com movimentos corporais. Ela ganhou vida oficialmente em 2007, a partir da publicação do livro “Yoga Cristã e Espiritualidade de Santo Inácio de Loyola”, que foi seguida de uma série de retiros e cursos de yoga cristã, que aconteceram praticamente todos os anos desde então, fazendo surgir um movimento coletivo em torno de tal modalidade. A presente dissertação investiga este caso etnograficamente, por meio de observação participante e análise bibliográfica, cujo fio condutor é a trajetória de padre Haroldo, seu criador. Diante disso, tem como objetivos: compreender como se deram, até mesmo para além do caso citado, os processos de compatibilização da yoga com o catolicismo; vislumbrar os caminhos internos do catolicismo que abriram espaço para tais compatibilizações, e identificar ao que elas respondem e quais são seus efeitos. Seus caminhos procuram primeiro, destacar a dimensão inventiva da yoga cristã, focando sobretudo nas construções “ortopráticas” realizadas pelos indivíduos, com objetivos de estabilizar incorporações teóricas e práticas da yoga, para o contexto religioso cristão e católico. E segundo, por meio da antropologia fenomenológica e do corpo, dar ênfase a base existencial e corpórea da cultura, observando assim, como a alteridades e noções metafísicas – Deus, Trindade, Espírito Santo, chakras, prana, samadhi, etc – acabam tornando-se objetos culturais através da corporeidade. Por fim, uma das considerações centrais do texto é que a yoga cristã pode ser lida como uma tradição inventada, que incorpora elementos da yoga ao mesmo tempo em que estabelece algum grau de continuidade com práticas cristãs mais antigas, como os Exercícios Espirituais de Santo Inácio e a mística de São João da Cruz e Santa Teresa D’Ávila.