Em meados de 2015 os moradores das ilhas e margens do rio Xingu foram expulsos de seu território para dar lugar ao reservatório principal da usina hidrelétrica de Belo Monte. As casas foram demolidas, a vegetação cortada, as ilhas alagadas, a pesca deixou de ser uma atividade lucrativa e mesmo de garantir seu sustento.
O deslocamento forçado provocou dispersão social, ruptura econômica e violação de direitos que, associados às transformações ecológicas e espaciais, resultou na desfiguração do mundo, o que implica em pensar o deslocamento em sua dimensão ontológica.
Neste contexto, respostas à catástrofe e mecanismos de resistência foram estruturados a partir de dois caminhos distintos e complementares: a busca cotidiana por apoio institucional e a reestruturação da vida social a partir das redes preexistentes.
Esta tese é uma etnografia do esforço cotidiano dos ribeirinhos, ao longo dos últimos cinco anos, para reconstruírem sentidos, redes sociais e possibilidades de futuro. Descrevo como os dispositivos do deslocamento usados pelo estado e pela empresa foram incorporados e subvertidos em tecnologias políticas de resistência por meio das quais – reuniões, listas e mapas – se tornaram estratégias de cuidado, construção coletiva e organização política que levaram a criação do Conselho Ribeirinho e a inclusão de um Território Ribeirinho como mecanismo de reparação e condição legal para o funcionamento da usina de Belo Monte.