A expansão da religiosidade evangélica verifica-se não apenas nos dados no Censo, mas também em sua capacidade de mobilização e transformação no mundo da vida. A participação de atores sociais autodenominados evangélicos (ou assim classificados por terceiros) na política nacional é notória. A Frente Parlamentar Evangélica tornou-se uma das principais forças no Parlamento brasileiro e a governabilidade de qualquer presidente implica o apoio dessa bancada. Essa presença garantiu-lhes um lugar privilegiado em torno de grandes debates públicos como, por exemplo, casamento gay, criminalização da homofobia, aborto e descriminalização das drogas. Os embates com a comunidade LGBT e os movimentos feministas tornaram-se constantes e um consenso em torno de políticas relacionadas ao gênero parece longe do fim. Para além desse aspecto, diversas pesquisas vêm apontando a importância da religiosidade evangélica no processo de ascensão social da “classe C” e seu papel na formação de uma “mentalidade empreendedora” nas periferias das grandes cidades.
A tentativa da pesquisa é compreender esse cenário a partir da análise da reflexividade desses atores evangélicos, mais especificamente ligados à Igreja Universal, tomada aqui como estudo de caso. O estudo da “reflexividade evangélica” proposto aqui compreende tanto o julgamento e avaliação dos atores face a questões, situações e pessoas em torno de três temas escolhidos pela tese (política, empreendedorismo e gênero), quanto à elaboração de projetos existenciais e das conversações internas que realizam ao pensar a viabilidade de seus planos de ação em relação às condições objetivas em que se encontram. Por meio do estudo dessas conversações internas, pretendemos entender como esses atores constroem sua percepção de si e do mundo e a importância que atribuem à religiosidade nesse processo.
A principal hipótese desse trabalho é que a exposição e necessidade de participação em diversos mundos de ação constitui uma exigência cada vez maior de reflexividade por parte dos evangélicos, com a necessidade de incorporação de novos saberes e competências que não estão disponíveis, a priori, no mundo religioso. A partir disso, a ruptura com a continuidade contextual tradicional religiosa promove transformações na percepção que esses atores têm da religiosidade. Concomitantemente, a adesão à religiosidade também produz uma ruptura no contexto de vida dos indivíduos das periferias das grandes cidades, promovendo um novo ciclo de reflexividade e produzindo mudanças no mundo da vida.
Comentar